Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Futebol Feminino São Paulo

Homens despreparados roubam espaço das mulheres no futebol feminino

Episódios no final de semana com dirigentes de São Paulo e Palmeiras são exemplos

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Se no futebol masculino as mulheres já enfrentam mais obstáculos para conseguirem espaço, haveria de se pensar que no feminino elas teriam todo o protagonismo. Mas o que vemos é um filme repetido. Homens menos capacitados, menos preparados e menos competentes “passam na frente” de mulheres nos principais cargos nos clubes.

Vale abrir um parêntese aqui. Há homens extremamente capacitados e competentes que trabalham no futebol feminino por merecimento. Arthur Elias, técnico tricampeão brasileiro pelo Corinthians --tetracampeão considerando o título conquistado pelo Centro Olímpico em 2013--, é um ótimo exemplo. Não acredito em uma divisão que separa profissionais do futebol por gênero, como se apenas mulheres pudessem trabalhar com o futebol feminino e apenas homens pudessem trabalhar com o futebol masculino.

Antonio Luiz Belardo, diretor do departamento de futebol feminino do São Paulo, ao lado de Cristiane
Antonio Luiz Belardo, diretor do departamento de futebol feminino do São Paulo, ao lado de Cristiane - Rubens Chiri/SPFC

Deveria ser uma questão simples, de competência, não é óbvio? Mas dois exemplos do fim de semana mostram como não é isso que acontece.

O São Paulo foi campeão brasileiro sub-18 vencendo o Corinthians no último domingo (10). Era o título que faltava na prateleira da base feminina do clube do Morumbi após o trabalho iniciado em 2017, em uma parceria com o Centro Olímpico.

Mas o título não pode apagar uma gestão ruim do futebol feminino do São Paulo. O diretor do departamento de futebol feminino lá é Antonio Luiz Belardo, conselheiro do clube que assumiu o cargo em 2019. Qual é a experiência que ele tem trabalhando com o futebol feminino? Nenhuma. Qual é o conhecimento dele sobre a área? Nenhum. A gestão do futebol feminino no São Paulo é usada como cabide de emprego.

A melhor coisa que aconteceu lá foi a entrada de Cleo Prado no departamento de base, no qual ela consegue desenvolver um trabalho excelente fora de campo, enquanto o técnico Thiago Viana conduz um ótimo trabalho dentro das quatro linhas.

O outro exemplo vem do rival. O Palmeiras acabou eliminado na primeira fase do Campeonato Paulista feminino neste domingo após sofrer derrota de virada para o São Paulo no Allianz Parque. Após o jogo, o diretor de futebol feminino do clube, Alberto Simão, deu uma entrevista coletiva para justificar os resultados ruins e afirmou que “jogadoras se acomodam com mais de um ano de contrato”.

Alberto Simão começou a trabalhar com futebol feminino em 2019, a convite do então diretor de futebol do Palmeiras, Alexandre Mattos. Antes disso, ele era executivo de futebol do Tupynambás, em Minas. Não tinha qualquer conhecimento sobre futebol feminino. Ainda assim, ganhou a chance de chefiar o projeto de um dos maiores clubes do Brasil na modalidade. Alberto até se envolveu com a área, buscou conhecimento, conseguiu mais investimento para elas.

Mas quem acompanha, estuda e abraça o futebol feminino sabe que uma das maiores lutas para a modalidade é ter contratos mais longos com as atletas. Dar a elas a estabilidade que um profissional merece. Contrato longo gera “acomodação”? O que dizer do contrato de quatro anos que o Palmeiras fez com Lucas Lima? Será mesmo que os erros do Palmeiras na temporada são por “acomodação das atletas”?

Exemplos assim mostram como é “fácil” para homens que não são os mais preparados, os mais capacitados, os mais entendidos da área assumirem cargos de chefia nos clubes --até mesmo no futebol feminino. Na CBF, por exemplo, até 2020, o futebol feminino era comandado exclusivamente por homens, enquanto havia mulheres claramente mais bem preparadas para isso.

Para que o futebol feminino se desenvolva, é essencial que no comando dele estejam pessoas que tenham conhecimento, preparo e interesse para atuarem ali, seja nos clubes, nas federações ou na confederação. Infelizmente, em boa parte dos casos, não é o que acontece.

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