Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Descrição de chapéu Futebol Feminino

Homenagem da CBF às pioneiras do futebol é tardia, mas merecida

Melhoria das condições na seleção hoje se deve ao esforço da geração de 30 anos atrás

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Meg, Marisa, Fanta, Elane, Solange, Márcia Tafarel, Sissi, Cenira, Roseli, Pretinha, Michael Jackson… É bem possível que você nunca tenha ouvido falar de uns oito ou nove nomes desta lista. Talvez se lembre apenas de um ou dois. Mas sem esses nomes e muitos outros não citados aqui, a história do futebol das mulheres no Brasil não teria começado.

Foi em 1988 que algumas delas figuraram entre as primeiras "convocadas" oficialmente para uma seleção brasileira feminina que foi montada, às pressas, para a disputa do Mundial experimental organizado na China. Em 1991, elas teriam a chance de, pela primeira vez, jogarem uma Copa do Mundo –uma Copa só delas, há exatos 30 anos.

Sissi comemora gol do Brasil diante da Nigéria na Copa do Mundo de 1999
Sissi comemora gol do Brasil diante da Nigéria na Copa do Mundo de 1999 - Zoraida Diaz - 1º.jul1999/Reuters

Aproveitando o marco desta data, a CBF finalmente vai fazer algo que já deveria ter feito há muito tempo. As chamadas "pioneiras do futebol" serão homenageadas na Granja Comary com um jogo comemorativo, uma medalha e o principal: reconhecimento.

Boa parte dessas mulheres nunca sequer pisou no gramado do tradicional centro de treinamento em Teresópolis, no Rio de Janeiro. O local foi inaugurado em 1987, mas as mulheres não eram bem-vindas na época. Naquele tempo, a CBF só dava às jogadoras o que sobrava dos homens.

E logo na primeira competição delas, o Mundial "teste" de 1988, o Brasil ficou com o honroso terceiro lugar vencendo as chinesas, donas da casa, nos pênaltis. Eram 12 equipes na disputa, os jogos aconteceram com estádios lotados e tudo isso convenceu a Fifa de que era um bom negócio apostar em uma Copa do Mundo para as mulheres.

Há 30 anos, em 16 de novembro de 1991, acontecia o primeiro evento oficial de futebol feminino organizado pela Fifa. Com 12 seleções reunidas de novo na China, a primeira Copa delas, claro, teve suas contradições. Uma delas foi o tempo de jogo determinado pela organização. Não seriam partidas de 90 minutos, mas sim de 80 (com dois tempos de 40), porque não achavam que as mulheres eram capazes de jogar no mesmo tempo que os homens.

A capitã da seleção dos Estados Unidos daquele ano, April Heinrichs, resumiu: "Eles tinham receio que nossos ovários caíssem se jogássemos 90 minutos".

Enquanto outros países do mundo já investiam no futebol delas, o Brasil havia acabado de se livrar da proibição por lei (decreto que impediu mulheres de jogarem futebol de 1941 a 1979) e, na prática, ainda enfrentava uma proibição informal.

O preconceito forte contra mulheres que jogavam bola naquela época fazia com que nem mesmo a CBF se importasse em dar o mínimo de estrutura de treino para que as jogadoras chegassem à China devidamente preparadas para enfrentar as melhores seleções do mundo. Elas acabaram eliminadas na primeira fase.

Ainda assim, aquela seleção foi a primeira a mostrar ao mundo que, no país do futebol, mulheres também tinham habilidade pra driblar e encantar. E foi contra tudo e contra todos, usando uniforme emprestado dos homens, treinando em gramados improvisados e sem nenhum incentivo da organização que estampavam nas camisas que essas mulheres escancararam as portas do futebol para as gerações que vieram depois delas.

Se hoje as jogadoras da seleção feminina recebem as mesmas diárias que os homens, se usufruem da mesma estrutura e finalmente começam a ter as condições ideais para competir com as principais equipes do mundo, isso se deve ao esforço e à ousadia dessas pioneiras tão pouco lembradas.

Conhecer para reconhecer. Ainda hoje, pouca gente sabe a história do futebol feminino no Brasil. A homenagem da CBF está atrasada, mas antes tarde do que mais tarde. Que esses nomes nunca mais sejam esquecidos.

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