Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça
Descrição de chapéu copa são paulo

Quando surge uma faca em campo, o jogo não pode seguir

É imprescindível que se tomem atitudes contundentes para que isso não se repita

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As cenas dos últimos minutos da semifinal da Copinha entre São Paulo e Palmeiras foram desesperadoras. Um misto de espanto com incredulidade: estava mesmo acontecendo? Eram torcedores invadindo o campo para agredir jogadores de base? Era uma faca no gramado? A gente realmente viu o árbitro reiniciar o jogo depois de tudo isso?

O futebol brasileiro reinventa cenas surreais como essa todos os anos. Torcedor invade centro de treinamento armado e fica tudo bem. Torcida apedreja ônibus dos jogadores antes de uma partida e o jogo ocorre normalmente. Torcedores invadem o campo, intimidam jogadores, uma faca aparece nesse meio tempo e… segue o jogo!

Ao que parece, a faca teria sido arremessada no gramado. De toda forma, como ela foi parar ali? Houve uma falha grave de segurança que permitiu a alguém passar pela revista com ela. Isso me lembrou o episódio que vivi há quase quatro anos, quando fui barrada na entrada do estádio porque estava com um caderno na mochila. "Objeto inflamável, está no estatuto do torcedor", alegou a policial na revista.

Árbitro exibe faca recolhida no gramado em partida entre São Paulo e Palmeiras, pela Copinha
Árbitro exibe faca recolhida no gramado em partida entre São Paulo e Palmeiras, pela Copinha - Reprodução/SporTV

Não houve discussão –quer dizer, até houve, da minha parte, tentando argumentar que eu não podia jogar fora meu caderno de trabalho e que minhas roupas também eram inflamáveis e, ainda assim, ninguém exigia que eu entrasse no estádio sem elas. Era uma regra que, na minha cabeça, não fazia sentido. Que mal um caderno pode causar? E eu não estou sozinha nessa. Ouvi relatos de pessoas que já foram barradas com livros, jornais e até laranjas. Mas o cidadão com a faca passou.

Quem frequenta as arquibancadas no estado de São Paulo vai concordar comigo: a experiência, muitas vezes, deixa a desejar pela falta de organização, especialmente em jogos grandes, com estádio cheio. Pelo fato de terem proibido bebida alcoólica nos jogos, as pessoas ficam do lado de fora bebendo e deixam para entrar mais em cima da hora da partida. Isso acumula muita gente ao mesmo tempo nas filas que são muito mal organizadas, com as pessoas se empurrando e brigando por um mínimo espaço.

Para quem é mulher, então, a experiência pode ser ainda mais traumatizante. Há uma separação ali na hora da revista para as mulheres passarem por policiais femininas. Só que essa fila não é organizada previamente, então você vai entrando na multidão e, quando já está mais perto da catraca, começa a pedir licença para tentar chegar à revista feminina, sempre com mãos (assediadoras) de estranhos tentando te tocar nesse percurso.

Dentro do estádio, já proibiram bandeira com mastro, cerveja e a torcida adversária em clássicos (que gerou um dos fenômenos mais repugnantes do futebol e que existe e persiste exclusivamente em São Paulo: a torcida única). Chegaram a proibir que torcedor fosse a um jogo de futebol com camisa de futebol, vejam só! –aconteceu na final da Ladies Cup entre São Paulo e Santos, no Allianz Parque, em dezembro do ano passado.

Só não perceberam que a violência não precisa de nenhuma dessas coisas para acontecer. Nenhuma dessas medidas serviu para acabar com as brigas de torcida, com as ameaças de torcedores a jogadores ou mesmo com invasões de campo. A Polícia Militar, o Ministério Público de São Paulo e os próprios clubes são coniventes, porque em vez de buscarem agir na causa do problema (prender e punir os que promovem as brigas), preferem tirar o sofá da sala.

É imprescindível que se tomem atitudes mais contundentes para que cenas como as vistas na semifinal da Copinha não voltem a acontecer e para que uma tragédia maior seja evitada.

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