Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Camp Nou lotado mostra que paixão pelo futebol pode ir além do gênero

Clássico entre Barcelona e Real Madrid pela Champions feminina teve 91.553 presentes

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Poucas coisas resumem melhor a essência do futebol que um estádio lotado. O fim de semana mostrou isso com as decisões dos estaduais pulsando no ritmo das torcidas – depois de dois anos de arquibancadas vazias por conta da pandemia, estádios como Maracanã, Allianz Parque, Mineirão, Arena do Grêmio e Castelão tiveram festas lindas que fazem a gente lembrar por que o futebol é tão apaixonante.

Cenas assim ainda são um pouco raras no futebol feminino. São espaços que sempre foram negados a elas ao longo da história. Não foi só pela lei que mulheres foram impedidas de jogar futebol. Ao longo das décadas sem proibição, conseguiram minar todas as maneiras do jogo delas se desenvolver.

Foi assim por muito tempo, até quase ontem, eu diria. Mas as mulheres não desistiram. E o que se viu no Camp Nou na última semana foi o símbolo da resistência de décadas para mostrar que, sim, um estádio para quase 100 mil pessoas poderia ser delas também.

Camp Nou com arquibancadas lotadas durante partida entre as equipes femininas de Barcelona e Real Madrid
Camp Nou com arquibancadas lotadas durante partida entre as equipes femininas de Barcelona e Real Madrid - Albert Gea - 30.mar.22/Reuters

O Barcelona, que hoje é o melhor time do mundo entre as mulheres, preparou o terreno ao longo dos últimos anos para conquistar a marca histórica que veio no último 30 de março de 2022.

Foi nesse "El Clásico", valendo vaga nas semifinais da Champions League feminina, que o Barcelona entendeu que poderia fazer história. Anunciou que a partida seria no Camp Nou – o time feminino costuma jogar no Johan Cruyff, estádio para 6 mil pessoas – e vendeu todos os ingressos para a partida em poucos dias.

O jogo contra o Real Madrid começou elétrico nas arquibancadas. A torcida fez um espetáculo digno de Champions League (masculina). Tudo o que tem num jogo deles teve nessa partida. Mosaico, gritos de "Barça, Barça", exaltação ao time (e especialmente à principal jogadora, Alexia Putellas, que teve seu nome gritado algumas vezes). A atacante Jenni Hermoso resumiu: "Me senti uma jogadora de verdade".

Foram 91.553 pessoas naquela noite no Camp Nou. O maior público da história do futebol feminino em partidas realizadas entre clubes. E quem foi ao estádio viu um jogaço, que terminou 5 a 2 para as donas da casa.

O melhor de tudo é saber que esse público já não é um caso isolado. O Barça anunciou que 50 mil ingressos já foram vendidos para a semifinal da Champions League feminina contra o Wolfsburg no Camp Nou.

Em jogos na Inglaterra, times como Chelsea, por exemplo, também têm fidelizado seus torcedores em jogos femininos. Aqui no Brasil, infelizmente, ainda falta um trabalho mais forte dos clubes de camisa para engajar os torcedores também com as equipes femininas. De todos, o Corinthians é quem dá o melhor exemplo – não à toa é o time detentor dos recordes de público.

Dos nove clubes de camisa da primeira divisão do Brasileiro feminino, sete já criaram redes sociais exclusivas para divulgar as informações do time feminino (faltam só Grêmio e Flamengo). Seis já mandaram jogos femininos no estádio principal do clube na competição nacional (exceção feita a Grêmio, Flamengo e Cruzeiro).

São exemplos bobos, mas que ajudam o torcedor a obter informações do futebol feminino e a comparecer aos jogos. Não precisa mandar todos as partidas nos grandes estádios, mas criar uma estratégia para colocar alguns confrontos mais importantes neles ajudaria a engajar os torcedores.

O Corinthians faz muito bem isso. O Galo deu um bom exemplo ao colocar Atlético x Corinthians no Independência. Nesta segunda-feira (4), pela primeira vez haverá um clássico mineiro na primeira divisão do feminino, mas o jogo com mando do Cruzeiro será no Sesc Alterosas, bem mais afastado e de difícil acesso para o torcedor.

O Barcelona mostra que dá para fazer melhor. O Camp Nou lotado teve futebol na sua melhor essência. Esse, não tem gênero.

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