Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Descrição de chapéu Futebol Feminino

Copa América evidencia descaso da Conmebol e da CBF com futebol feminino

Torneio na Colômbia é tratado com menosprezo pela organização e pela confederação brasileira

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Vamos dizer que você tenha um carro e queira vendê-lo. Qual é a primeira coisa que você vai fazer para chegar ao objetivo –ganhar dinheiro com o produto (carro) que você tem em mãos? Anunciá-lo nos jornais ou em sites? Espalhar panfletos nas ruas? Tentar de todas as formas fazer com que as pessoas saibam que você tem um bom carro à venda para que elas possam se interessar em comprá-lo?

Se você tem uma empresa, então, e, portanto, mais dinheiro disponível para apostar na divulgação do produto que você mesmo vende, imagino que vá turbinar a publicidade dele. Parece muito óbvio, não?

Pois bem, talvez não para a Conmebol.

Para se ter uma ideia, os ingressos para os jogos da Copa América feminina começaram a ser vendidos faltando menos de 15 dias para o início do torneio. Isso pela internet. Em pontos de venda físicos, as entradas foram disponibilizadas apenas uma semana antes.

O estádio Centenario, em Armênia, com público diminuto para a partida em que o Brasil goleou a Argentina - Amanda Perobelli - 9.jul.22/Reuters

Mas para vender ingressos é preciso divulgar a competição, não é mesmo? Os relatos de quem está em Armênia, sede da seleção brasileira nos primeiros jogos da Copa América, são que não há nenhum sinal de que ali esteja acontecendo uma competição importante de futebol. Não há divulgação no aeroporto nem nos principais pontos da cidade.

Se você chega lá hoje sem saber do torneio, provavelmente sairá de lá sem descobrir, já que não vai cruzar com nada que o informe sobre o evento. Detalhe: os jogos da seleção brasileira deveriam despertar grande interesse local, já que é o time a ser batido na competição, atual campeão, inclusive. Com um pouquinho de esforço, a Conmebol conseguiria vender alguns milhares de ingressos para a partida –se fizesse o mínimo.

O fato de a Euro feminina estar ocorrendo ao mesmo tempo que a Copa América (coincidiu por conta dos adiamentos da pandemia) torna a situação ainda mais constrangedora para a Conmebol. Dos 700 mil ingressos disponíveis para a competição europeia, mais de 500 mil já foram vendidos. No primeiro dia, já houve recorde de público batido –o jogo entre Inglaterra e Áustria no Old Trafford teve casa cheia, com quase 69 mil pessoas.

A partida de abertura da Copa América entre Colômbia e Paraguai, em Cali, teve pouco mais de 12 mil torcedores presentes. Poderia ter muito mais. Em junho deste ano, a final do Campeonato Colombiano feminino teve 37 mil torcedores.

O que a Uefa fez diferentemente da Conmebol? Planejamento. Divulgação. A cem dias do evento, a Uefa já anunciava a venda dos ingressos para a Euro. Houve publicidade até na Tower Bridge, um dos principais pontos turísticos de Londres. É quase impossível estar na Terra da Rainha e não saber que uma Euro está acontecendo por lá.

Placar anuncia público de quase 70 mil espectadores em Inglaterra x Áustria; diferença da Euro para a Copa América é gritante - Carl Recine - 6.jul.22/Reuters

​E, assim como a entidade sul-americana, a CBF também evidencia seu descaso com o futebol feminino nessa Copa América. Conforme apontou reportagem de Gabriela Moreira, da Globo, a confederação não enviou nenhum representante para acompanhar a seleção feminina na Colômbia. Algo que acontece em qualquer torneio da seleção masculina –até mesmo da base.

É curioso que, entre oito vice-presidentes e oito diretores, ninguém tenha conseguido disponibilidade para estar na Colômbia junto com a seleção feminina. Os mesmos dirigentes que aparecem para questionar o trabalho da comissão técnica, mas não fazem questão de acompanhá-lo minimamente. Como disse a técnica Pia Sundhage na coletiva após a vitória por 4 a 0 na estreia da competição:

"Desejo nos classificar para a Copa do Mundo, mas também espero que, ao longo dos anos, eu possa mudar a realidade do futebol feminino no Brasil. Muito se fala sobre igualdade de pagamento, mas espero igualdade de tratamento. Algumas coisas são maiores que medalhas".

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