Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Descrição de chapéu Futebol Feminino eurocopa

Como a Inglaterra fez o futebol voltar para casa

Mulheres levaram país ao topo de novo após 56 anos

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Há pelo menos quatro anos, nós ouvimos os ingleses anunciando: "Está voltando, está voltando, o futebol está voltando para casa". O lema surgiu em 1996, voltou em 2006 e ficou mais forte na Copa do Mundo da Rússia, em 2018, quando a Inglaterra foi semifinalista (algo que não acontecia desde 1990) e reacendeu as esperanças dos britânicos, que não conquistavam um título desde 1966.

Depois, veio a Euro em 2021 com a final marcada justamente para o estádio de Wembley, em Londres. E a Inglaterra estava lá. "It’s coming home", anunciavam os torcedores nas arquibancadas antes de os pênaltis definirem o real destino daquele troféu. "It’s coming Rome", no fim, eram os italianos que estavam certos.

E, no dia 31 de julho de 2022, finalmente o futebol "voltou para casa". Só que pelos pés delas. As mulheres colocaram o futebol inglês no topo de novo depois de 56 anos. Detalhe: em cima de um rival histórico, a Alemanha, e diante de um público recorde da Euro (independentemente de gênero): 87.192 pessoas em Wembley.

Jogadoras da Inglaterra fazem a festa com uma multidão na Trafalgar Square, em Londres, um dia após a conquista da Eurocopa - Hollie Adams/AFP

O título veio para coroar uma Eurocopa histórica sediada na Inglaterra. Além dos recordes de público, houve números impressionantes na audiência de TV, com 17,4 milhões de pessoas assistindo à final (superando as 11 milhões na semifinal da Copa do Mundo de 2019, contra os Estados Unidos). Além disso, o jogo também registrou a maior audiência de todo o ano de 2022 na TV britânica.

Mas nada disso foi por acaso. A semente começou a ser plantada há exatamente dez anos. Foi também em um 31 de julho, só que em 2012, que a Inglaterra começou seu "despertar" para o futebol feminino. E não é que o Brasil tem a ver com isso? Uma partida ainda da fase de grupos dos Jogos Olímpicos de Londres reuniu 70 mil pessoas em Wembley.

Justamente contra a seleção brasileira, de Marta, Cristiane, Formiga... Ninguém esperava que o estádio ficaria praticamente cheio para ver "só" as mulheres em campo. A audiência de TV daquela partida também chamou a atenção. E foi a partir disso que a Federação Inglesa lançou alguns meses depois um plano chamado "Game Changer".

A ideia era transformar o futebol feminino no segundo esporte mais popular do país em cinco anos. Os planos foram baseados em quatro pontos-chave: a criação de centros de excelência para desenvolver jogadoras, a entrega de uma nova estratégia comercial específica para o futebol feminino, a expansão da Liga Feminina (WSL) e o fomento do futebol feminino nas categorias de base.

Na época, a WSL tinha apenas uma divisão com oito times. Hoje, são duas divisões, cada uma com 12 equipes, e os recordes de público das competições locais são batidos ano após ano. Há grandes patrocinadores potencializando o valor comercial do torneio, que agora também é transmitido na TV.

Em termos de seleção, as mulheres passaram a ter mais investimento e um espaço no centro de treinamento de excelência (St. George Park) inaugurado em 2012. Os resultados começaram a vir já em 2015, quando a seleção inglesa chegou à semifinal da Copa do Mundo pela primeira vez.

No domingo (31), a celebração das atletas da Inglaterra foi diante de 87.192 espectadores no estádio de Wembley - Lisi Niesner - 31.jul.22/Reuters

Os recordes de público e de audiência nessa Euro e o próprio título da Inglaterra são apenas a consequência de todo o planejamento e do investimento da última década. O Brasil, por exemplo, também viu um Maracanã lotado com 70 mil pessoas torcendo por mulheres em 2016. E o que a CBF fez com isso? Ainda demorou três anos (até a Copa do Mundo de 2019) para entender o potencial da modalidade e começar o investimento na base e nas competições nacionais.

Já dizia o ditado: o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário. Que a gente agora saiba correr atrás do tempo perdido e não interrompa o que começou a ser feito. Começamos a plantar tarde, mas ainda dá para sonhar com a colheita.

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