"Verba volant, scripta manent." Assim começou a carta enviada hoje pelo vice-presidente Hamilton Mourão para Jair Bolsonaro.

O texto reitera os elogios de Mourão a Chico Mendes, sua defesa do direito ao aborto, a solidariedade a Jean Wyllys, os riscos da mudança da embaixada de Israel, seu desdém pelos livros de Olavo de Carvalho, além de uma interpretação do novo clipe de Pabllo Vittar à luz de Eliane Brum. "Assim como toda a imprensa brasileira, em especial o Catraca Livre, a jornalista Eliane Brum tem realizado um trabalho brilhante", escreveu.

Antes de terminar, a carta traz um conselho "Mantenha seus filhos longe do Twitter. Atrapalha a produtividade. Veja o meu garoto: ficou tão focado no trabalho, sem distrações nas redes sociais, que virou assessor do presidente do Banco do Brasil". A correspondência termina com um elogio ao grande combatente Domingos Fernandes Calabar.

Durante a semana, quando escrevia a missiva sentado na cadeira presidencial, Mourão foi questionado se cederia o lugar quando Bolsonaro chegasse. "Aguardá-lo-ei", respondeu, fazendo gestos largos com as mãos. Sem pestanejar, na sequência, defendeu a excelência do Hospital Sírio-Libanês.

Em tom solene, Mourão anunciou sua entrada no sensível campo da poesia. Pediu uma bala de laranja para evitar a rouquidão e recitou os primeiros versos de sua lavra: "Carlos amava Flávio/ que amava Fabrício/ que amava Adriano/ que não amava ninguém/ Carlos foi eleito para a Câmara dos Vereadores/ Flávio para o Senado/ Fabrício desapareceu/ E Adriano está foragido".

Após longa conversa com Steve Bannon, Jair Bolsonaro anunciou, pelo Twitter, a construção de um muro em torno do vice Hamilton Mourão. "Os venezuelanos pagarão pela cimentcola. E causo encerrado", completou Carlos Bolsonaro.

Ao ser informado dos planos do presidente, Hamilton Mourão disse apenas uma frase: "Tem que manter isso aí, tá OK?". Apressado, justificou-se: "Tenho que fazer 48 depósitos no caixa eletrônico até às 22h de hoje".