Aos 86 minutos do primeiro jogo da Croácia na Copa do Mundo, o selecionador Dalic deu ordens para que Mandzukic fosse substituído por Kalinic.
O episódio não tem qualquer espécie de "gravitas" por causa dessa maldita mania de todos os nomes acabarem em ic. Parece que é um bêbado quem está a contar a história e vai soluçando ao longo do relato.
Mas aconteceu o seguinte: Nikola Kalinic se recusou a entrar em campo, alegando dor nas costas. Dalic desconfiou que o jogador estava apenas insatisfeito por entrar tão tarde no jogo e mandou-o para casa.
Nesta quarta-feira, quando a Croácia se qualificou para a final, lembrei-me de Kalinic.
Se tinha dores nas costas, devia ter entrado; se tinha dores no orgulho, devia ter entrado ainda mais depressa.
Agora, vai ocupar um lugar ao lado de outros desconhecidos como Stuart Sutcliffe, o baixista de uma certa banda de Liverpool que estava a fazer uma digressão por Hamburgo.
Sutcliffe decidiu ficar por lá para se dedicar à pintura.
Os seus amigos John, Paul e George voltaram para Inglaterra, convidaram um baterista chamado Ringo e obtiveram algum sucesso.
Já todos fomos idiotas.
Mas é muito raro alguém cometer uma idiotice de uma dimensão tão grande que até a história resolve aplicar um castigo.
Os ingleses padecem de um mal semelhante. A sensação que temos é que eles se dedicam a inventar desportos que depois o resto do mundo pratica melhor.
Os indianos são melhores no críquete, os neozelandeses são melhores no rúgbi, vários países são melhores no futebol.
Passaram toda a Copa a cantar "football is coming home", o futebol está voltando para casa. Na verdade, descobriram nesta quarta, não estava.
Aliás, é óbvio que o futebol fugiu de casa por uma boa razão. Era maltratado. Só chutão para a frente e corrida, coitado.
Agora temos uma final inédita: França x Croácia.
A minha escolha está feita: os croatas jogaram três vezes a prorrogação. Ou seja, chegam à final com mais um jogo nas pernas e menos um jogador no elenco.
Merecem. Se houver justiça, a sorte será tão amiga deles quanto foi cruel para Kalinic.
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