Sabemos que o mundo está em boas mãos quando o debate político reproduz, talvez com um pouco menos de sofisticação, as conversas sobre futebol. Falta na nossa área? Não me pareceu. Falta na grande área deles? Pênalti! Por exemplo: Hillary Clinton usou o email errado para as suas comunicações. Pênalti! Trump pediu a uma potência estrangeira para investigar um adversário político. Não me parece que haja infração.
O futuro é dos fisioterapeutas. O contorcionismo necessário para defender uma coisa e o seu inverso tem de gerar hérnias muito dolorosas na coluna. Como gosto muito de ver a imaginação humana em ação, tenho acompanhado com interesse os argumentos dos apoiadores de Trump para justificar o injustificável. Terei todo o gosto, aliás, em avançar com alguns argumentos que eu próprio inventei para ajudar o presidente dos Estados Unidos a evitar a destituição.
Peço ao leitor que mantenha presente o seguinte pensamento, que define o espírito dos nossos dias —o que vai ler a seguir é sátira hoje, mas muito provavelmente será realidade amanhã.
O caso em que Trump é alvo de algumas das mais graves acusações que já foram feitas a um presidente americano revela, sem margem para dúvidas, a dimensão de grande estadista do líder dos EUA.
Trump terá usado o poder do seu cargo para solicitar a intervenção de uma potência estrangeira nas próximas eleições americanas. Ou seja, fica desmentido que Trump resiste à entrada de estrangeiros nos Estados Unidos —não só os acolhe como deseja que eles participem ativamente na vida política da América. É um exemplo muito refrescante de concessão de cidadania plena a naturais de outros países.
A melhor defesa de Trump é enviar ao Congresso a declaração que todos os homens fazem quando são apanhados por causa de atos que foram levados a cometer por meio do telefone: “Querida, isto não é o que parece”. Só por muita má vontade o Congresso não aceitará essa justificativa sincera. Sobretudo se, a seguir, Trump oferecer um anel ao Congresso, para encerrar o assunto.
Trump talvez tenha feito coisas ilegais, mas pelo telefone da Sala Oval, que é o canal certo. Hillary Clinton pode não ter feito nada ilegal, mas se comunicou pelo seu email pessoal, que é o canal errado. Vamos concordar em dizer que se trata de um empate e não se fala mais nisso.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.