Só porque todos os estudos indicam que a cloroquina não funciona, as pessoas se precipitaram para concluir que a cloroquina não funciona. É daqueles fenômenos difíceis de compreender.

Maduro, Bolsonaro e Trump, estadistas conhecidos por não se deixarem enganar por imposturas como fatos ou argumentos racionais, continuaram a recomendar o medicamento. O remédio é eficaz no tratamento da malária, que tem em comum com a Covid-19 o fato de também ser uma doença.

Só por má vontade ou capricho é que o coronavírus não se deixaria matar por um remédio que cura outras infecções. Talvez ele esteja com frescuras agora, mas é provável que reflita e caia em si mais cedo ou mais tarde.

É verdade que a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia desaconselham a utilização da droga. Mas Bolsonaro não precisa de caução dessas instituições para atualizar o seu próprio pensamento e, depois de ter recomendado a cloroquina, afirmou que conhece um medicamento ainda melhor: a “ivermeticina”, que só peca pelo fato de não existir.

O presidente se referia à ivermectina, sobre a qual disse que era “até melhor que a cloroquina, porque mata os vermes todos”. À primeira vista, a capacidade de matar os vermes todos não teria qualquer vantagem, porque o coronavírus, como o próprio nome indica, é um vírus, e não um verme.

Acontece que, em princípio, os micro-organismos convivem. Matando todos os vermes, a ivermectina deixa o vírus isolado, impondo-lhe uma quarentena de distanciamento social em relação aos seus amigos. Em breve ele estará a fazer pão caseiro e lives de Instagram e, numa questão de poucas semanas, estará farto da solidão e desejará desconfinar dos nossos organismos.

Na verdade, e após todas essas tentativas, parece-me que será uma questão de tempo até que Bolsonaro chegue à conclusão que nos vai salvar a todos.

Uma vez que a Covid-19 não é mais do que uma gripezinha ou resfriadinho, a medicação correta é evidente: paracetamolzinho. Basta que farmaceuticazinhas comecem a produzi-lo em massazinha.