A notícia de que poderá existir vida extraterrestre nas nuvens do planeta Vênus é uma informação excitante para os cientistas e uma tremenda desilusão para os leigos.
A vida de que se fala são micro-organismos que flutuam num gás tóxico que cheira a alho e a peixe podre. De acordo com os cientistas, o gás é a fosfina, que é produzida por micro-organismos que vivem nas entranhas de animais, como os pinguins.
Ora, esses não são os extraterrestres que a ficção científica nos prometeu durante décadas. A vida extraterrestre dos filmes consistia, basicamente, em seres parecidos com cães com os quais a gente podia fazer amizade, como o Chewbacca e o Alf ou bichos peçonhentos a quem a gente podia dar tiros, como aquela espécie de lagarta ranhosa gigante do filme “Alien”.
Ambas as atividades —a amizade e os tiros— proporcionavam entretenimento de qualidade. Os extraterrestres-cães ocasionavam comoventes momentos de fraternidade intergaláctica; os extraterrestres-lagarta estouravam no meio de um espectacular estardalhaço de muco e gosmas verdes, para aprenderem quem manda na galáxia.
Micro-organismos que flutuam em gases não dão bons protagonistas de filmes. O ET seria um filme muito diferente. O menino entrava no seu quarto e cheirava-lhe a alho e a peixe podre. Desconfiava que um pinguim tinha ido defecar no seu quarto. Talvez a mãe chamasse a desinfestação. Fim.
Tenho a certeza de que o micro-organismo não ressuscitaria crisântemos murchos. Em princípio, ficariam ainda mais murchos, com o cheiro. O micro-organismo não se embebedaria com cerveja, não sairia com o menino na noite de Halloween, não faria uma bicicleta voar sobre uma ravina e não chamaria o seu povo para que viesse buscá-lo. O mais provável é que o seu povo continuaria a flutuar nas nuvens de Vênus, a cheirar mal, e nem desse pela falta dele.
É um extraterrestre com o qual não se pode travar amizade e a quem não se pode dar um tiro. Para que serve, então? No máximo, intoxicaria o menino, causando-lhe uma pequena infecção. Para isso, já cá temos micro-organismos no planeta Terra desde março deste ano. Obrigado, cientistas, mas não estou impressionado.
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