Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Esses não são os extraterrestres que a ficção científica nos prometeu

Com micro-organismos que flutuam em gás tóxico não se pode travar amizade ou dar tiro

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A notícia de que poderá existir vida extraterrestre nas nuvens do planeta Vênus é uma informação excitante para os cientistas e uma tremenda desilusão para os leigos.

A vida de que se fala são micro-organismos que flutuam num gás tóxico que cheira a alho e a peixe podre. De acordo com os cientistas, o gás é a fosfina, que é produzida por micro-organismos que vivem nas entranhas de animais, como os pinguins.

Ora, esses não são os extraterrestres que a ficção científica nos prometeu durante décadas. A vida extraterrestre dos filmes consistia, basicamente, em seres parecidos com cães com os quais a gente podia fazer amizade, como o Chewbacca e o Alf ou bichos peçonhentos a quem a gente podia dar tiros, como aquela espécie de lagarta ranhosa gigante do filme “Alien”.

Ilustração de uma pessoa subindo uma escada de corda pendurada em um disco voador
Ilustração de Luiza Pannunzio - Luiza Pannunzio/Folhapress

Ambas as atividades —a amizade e os tiros— proporcionavam entretenimento de qualidade. Os extraterrestres-cães ocasionavam comoventes momentos de fraternidade intergaláctica; os extraterrestres-lagarta estouravam no meio de um espectacular estardalhaço de muco e gosmas verdes, para aprenderem quem manda na galáxia.

Micro-organismos que flutuam em gases não dão bons protagonistas de filmes. O ET seria um filme muito diferente. O menino entrava no seu quarto e cheirava-lhe a alho e a peixe podre. Desconfiava que um pinguim tinha ido defecar no seu quarto. Talvez a mãe chamasse a desinfestação. Fim.

Tenho a certeza de que o micro-organismo não ressuscitaria crisântemos murchos. Em princípio, ficariam ainda mais murchos, com o cheiro. O micro-organismo não se embebedaria com cerveja, não sairia com o menino na noite de Halloween, não faria uma bicicleta voar sobre uma ravina e não chamaria o seu povo para que viesse buscá-lo. O mais provável é que o seu povo continuaria a flutuar nas nuvens de Vênus, a cheirar mal, e nem desse pela falta dele.

É um extraterrestre com o qual não se pode travar amizade e a quem não se pode dar um tiro. Para que serve, então? No máximo, intoxicaria o menino, causando-lhe uma pequena infecção. Para isso, já cá temos micro-organismos no planeta Terra desde março deste ano. Obrigado, cientistas, mas não estou impressionado.

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