Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Ricardo Araújo Pereira
Descrição de chapéu Natal

Ebenezer Scrooge recebe o Fantasma do Natal Presente do Subjuntivo

No epílogo de 'Conto de Natal', um quarto espírito resolve aparecer

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E então, um quarto espírito apareceu. Ebenezer Scrooge admirou-se.

“Desculpe, mas deve haver algum engano. Já cá estiveram três colegas seus. Foi impressionante, tive uma experiência mística extraordinária, fui confrontado com a minha própria avareza, o que me levou a uma profunda introspecção que acabou por me transformar num homem melhor. Agora queria ver se ainda dormia um pouco, porque amanhã gostaria de me levantar cedo para começar a ser
uma pessoa mais generosa e compassiva logo de manhã.”

O espírito não se deixou impressionar: “Fico satisfeito por ouvir isso, mas minhas ordens são para aparecer aqui a esta hora”.

Ilustração de uma pessoa vista de cima. Ela está deitada de lado numa cama com a cabeça em um travesseiro lendo o livro Cântico de Natal, de Charles Dickens. Há outro travesseiro na cama e uma coberta perto dos pés da pessoa que veste uma blusa de manga longa, calças e meias. Perto da parte onde seria a cabeceira da cama, há uma mesa com uma luminária, um livro ou caderno e uma máscara e, no fundo, há uma janela aberta.
Publicada neste domingo, 30 de maio de 2021 - Luiza Pannunzio/Folhapress

“Para quê? Como lhe disse, não vale a pena. O trabalho já foi feito pelo Fantasma do Natal Passado, pelo Fantasma do Natal Presente e pelo Fantasma do Natal Futuro.


“Sim. Mas faltou eu: o Fantasma do Natal Presente do Subjuntivo.”

“Isso é absurdo. O presente do subjuntivo continua a ser o presente. É o mesmo tempo.”

“Mas é outro modo, Ebenezer. O principal objetivo desta noite é que você passe a
comportar-se de outro modo.”

“Isso foi conseguido. Já lhe disse que mudei. Vou dar dinheiro a instituições de caridade e pagar os tratamentos do pequeno Tim. Estou completamente reformado. Pode ficar descansado. Boa noite.”

“Não, escute. Vamos dar um passeio. Ver alguns Natais.”

“Já fui. Vi Natais passados, Natais presentes e Natais futuros. Não vou ver Natais presentes do subjuntivo. Até porque não existem.”

“Ouça, quando distribuíram os Natais a cada fantasma, os melhores cargos já estavam escolhidos. Eu queria ser Fantasma do Natal Presente, mas o Márcio chegou primeiro, e eu tive de ficar com o presente do subjuntivo. Era isso ou ir assombrar uma casa velha. Ora, eu estive 200 anos a assombrar. Ao princípio é divertido, mas depois, basicamente, são gritos. Estava a precisar de uma mudança profissional, e aparecer a avarentos na noite da consoada para lhes fazer ver o verdadeiro espírito de Natal era
uma carreira muito atraente.”

“Eu compreendo. Mas Fantasma do Natal Presente do Subjuntivo não é nada. Além disso, já estou imbuído do espírito de Natal. Pode ir embora.”

“Você continua o mesmo homenzinho desagradável que era no início do conto. Pode enganar todo o mundo, mas o Fantasma do Natal Presente do Subjuntivo você não engana."

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