Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Ricardo Araújo Pereira
Descrição de chapéu

Cortar o cabelo no museu permite apreciar Vermeer de maneira inédita

Os museus e teatros da Holanda estão aproveitando a queratina para dar lições de história da arte

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Ainda há dias estava a ler um poema em que a autora dizia ter parado de roer as unhas precisamente quando toda a gente parou de lhe dizer para parar de roer as unhas. Às vezes, é assim.

Unhas, já agora, são feitas de queratina, e são uma estrutura aparentada dos cabelos. Faz todo o sentido que os estabelecimentos comerciais que penteiam uns também façam as outras. O mundo está mais bem organizado do que a gente pensa. Seja como for, quem escrevia o poema só deixou de roer as unhas quando deixaram de lhe dizer para não ser cretina com a queratina.

Ilustração de duas mãos vistas de cima apoiadas em uma mesa. A mão esquerda está terminando de passar esmalte vermelho nas unhas da mão direita, as manchas de cor saem dos limites das unhas. Ao redor das mãos, há um potinho de esmalte vermelho aberto e outros três (verde, amarelo e rosa) fechados, uma tesoura pequena, um palito para unhas e várias manchas vermelhas.
Publicada neste sábado, 22 de janeiro de 2022 - Luiza Pannunzio

Os museus e teatros dos Países Baixos também aproveitaram unhas e cabelos para dar uma lição. O governo neerlandês proibiu a abertura dos museus e dos teatros, mas autorizou o funcionamento de cabeleireiros e esteticistas.

À primeira vista, a medida não faz grande sentido. E à segunda vista, receio, também. Então, diretores de museus e de teatros passaram a oferecer serviços de cabeleireiro e manicure. As pessoas entram no museu e cortam o cabelo enquanto contemplam um quadro de Van Gogh. Vão ao teatro e assistem à ópera ao mesmo tempo que lhes fazem as unhas.

É um protesto, evidentemente, mas pode também ser um interessante progresso. Juntar atividades e poupar tempo.

Um avanço inovador que, sem a pandemia, não ocorreria a ninguém. E que melhora ambas as experiências. No decurso de um corte de cabelo, uma pessoa pode ficar com um olho obstruído pela franja e assim apreciar um Vermeer de um modo inédito até hoje.

Ou pedir que lhe façam a barba como a da figura central da "Ronda da Noite", do Rembrandt. Haverá experiência de fruição da arte mais intensa do que o espectador se transformar na tela?

Fazer as unhas na ópera pode levar ainda mais longe a participação do público na obra. Se, na altura certa, a manicura der um golpe inadvertido no sabugo, a cliente pode, com o seu guincho agudo, juntar-se ao momento em que a Rainha da Noite ralha com a Pamina, na "Flauta Mágica". Estou certo de que Mozart aprovaria.

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