Ricardo Balthazar

É repórter especial. Foi editor de Poder e Mercado.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ricardo Balthazar
Descrição de chapéu

O pior que Moro pode fazer pela Lava Jato é ignorar seus críticos

Juiz sempre revela incômodo quando alguém questiona sua atuação

Em audiência na semana passada, o juiz Sergio Moro ficou contrariado quando um homem afirmou ter sido intimidado por procuradores da Lava Jato há dois anos. “Essas perguntas, dando voltas, não estamos chegando a lugar nenhum”, disse o juiz, interrompendo o advogado que interrogava a testemunha.

Irmão do caseiro de um sítio de Atibaia que era frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi reformado por empreiteiras, o homem foi surpreendido em casa por quatro procuradores em abril de 2016. Queriam saber dos donos do sítio e avisaram ao irmão do caseiro que teria problemas se descobrissem mais tarde que estava mentindo.

O Conselho Nacional do Ministério Público Federal examinou o episódio e concluiu meses depois que os procuradores agiram dentro da lei.

Semanas após o arquivamento do caso, policiais e procuradores apareceram na porta de outro irmão do caseiro em busca de sua mulher, que trabalhara no sítio. Mesmo sem mandado judicial, levaram-na até a propriedade com o filho do casal e fizeram perguntas por uma hora.

Moro ficou desconfiado ao ouvir o relato. Perguntou à testemunha se fora orientada por advogados e por que nunca falou do assunto antes. Em seguida, deu cinco dias para a Polícia Federal e o Ministério Público explicarem o que aconteceu.  

O juiz considera o apoio da opinião pública essencial para a Lava Jato, e sempre revela incômodo quando alguém questiona sua atuação e a dos procuradores à frente das investigações. O pior que poderia fazer pela operação, no entanto, seria empurrar episódios como o da semana passada para baixo do tapete.

Num depoimento em 2015, quando o doleiro Alberto Youssef sugeriu que se esclarecesse uma contradição entre ele e outro delator, recomendaram que esquecesse o assunto. “Quanto mais mexe, pior fica”, disse um procurador. “Bosta seca: mexeu, fede”, concordou um advogado. Passados três anos, pelo menos dois políticos implicados no lance já se livraram das acusações sofridas.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.