Ricardo Melo

Jornalista e apresentador do programa 'Contraponto' na rádio Trianon de São Paulo (AM 740), foi presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação).

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Órfão de Trump, Bolsonaro sobe na prancha e tem os dias contados

Que país aguenta até 2022 com mais de 3.000 mortes causadas pela Covid-19 por dia?

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Houve muita gente que apostou em Jair Bolsonaro como vacina contra os avanços sociais das gestões do PT. O dinheiro gordo; tucanos arrepiados; a escumalha parlamentar de sempre e a chusma de fanáticos que existe em qualquer país.

Essa mescla de interesses tinha por trás o apoio do grande capital financeiro, o americano principalmente. Bolsonaro foi eleito com base numa fraude digital gigantesca, arquitetada por gente como Steve Bannon, o Olavo de Carvalho de Donald Trump. Impediram Lula de concorrer às eleições com a ajuda do serviçal Sergio Moro.

Dispensável recordar as evidências de que a Lava Jato ignorou todas os protocolos de um processo legítimo e agiu como comparsa do Departamento do Estado americano para transformar Lula em inimigo público número um.

O “serviço” foi feito. Mal feito, porém.

Bolsonaro começou a cair de fato quando Donald Trump foi expelido da Presidência americana. O capitão expulso do Exército como terrorista e considerado “mau militar” por gente até como o ditador Ernesto Geisel ficou pendurado na brocha.

De lá pra cá, uma derrota atrás da outra. Os processos que mostram a roubalheira orquestrada por ele, Jair, e sua família ao longo da carreira de 30 anos como parlamentar são claros como a luz do sol. A desmoralização do Brasil no cenário internacional em todos os sentidos fala por si só.

Bolsonaro é medíocre. Pior: se orgulha disso, como seu ex-chanceler que festejava a condição de pária internacional. Identifica isso como “voz do povo”. Trata o Exército como “meu exército”, o que envergonha até o recruta recém-alistado. É imprestável. Serviu durante algum tempo, enquanto Trump esteve no poder, como aqueles pinchers que celebridades duvidosas seguram no colo em fotos de revistas.

Mas o fogo da batata começou a assar mais alto. A história tem suas leis e os cozinheiros fazem diferença. A turma que comandou o golpe contra uma presidenta legitimamente eleita está hoje contra a parede. O manifesto recém-publicado pedindo mudanças, assinado por banqueiros, empresários, economistas, é de uma hipocrisia exemplar.

Querem que Bolsonaro deixe de ser Bolsonaro. Durante 30 anos ele sempre disse o que defendia. Está pondo mãos à obra: “Vim para destruir, não para construir”. A parte dele ele está cumprindo...

O desgoverno chegou ao ponto de a grande mídia transformar as Forças Armadas em avalistas da democracia! Leiam a Constituição, por favor, cujos defeitos aparecem a céu aberto. O presidente da República é o comandante em chefe desta turma. Ao endossarem Bolsonaro nas eleições, o capital especulativo, o Judiciário subserviente, o Parlamento obediente e a grande mídia legitimaram o que vinha pela frente.

Se o país chegar ao ponto de aceitar que a democracia depende das Forças Armadas, pouco pode ser feito. Os militares estão infiltrados em todos os escalões. Militares de segunda categoria, da linha “uns mandam, outros obedecem”. O povo, ora o povo.

As Forças Armadas, que têm as armas na mão, “obedecem aos que mandam”. Analogias sempre são complicadas quando se comparam momentos diferentes. Em 1964, João Goulart, presidente, era o “comandante em chefe” da turma verde oliva.

Mesmo assim foi deposto pelos golpistas através de Auro de Moura Andrade, presidente do Senado e do Congresso. Andrade foi chamado de “canalha” pelo então parlamentar Tancredo Neves quando destituiu um presidente eleito que estava em território brasileiro e jamais atentou contra a Constituição em vigor.

Muito cuidado nessa hora.

Transformar as FFAA em fiadoras da democracia é apertar a corda em torno do pescoço. Ou a sociedade civil verdadeira começa a se mexer a favor da liberdade, da diversidade, da defesa da vida, da luta contra a pandemia, do combate ao autoritarismo e ao arbítrio; ou então os dias serão piores do que já estão.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior desta coluna afirmou que o presidente João Goulart foi deposto por Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados à época do golpe de 1964. Quem declarou vaga a Presidência da República, porém, foi o então presidente do Senado e do Congresso, Auro de Moura Andrade. Também foi Andrade quem o então deputado Tancredo Neves chamou de "canalha". O texto foi corrigido.

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