Ricardo Melo

Jornalista e apresentador do programa 'Contraponto' na rádio Trianon de São Paulo (AM 740), foi presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação).

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Instituições covardes adiam o fim de Bolsonaro

O que mais falta para tirar do poder um criminoso assumido?

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Em 2016, a então presidenta Dilma Rousseff foi afastada do governo sob o pretexto de cometer “crime de responsabilidade”. O suposto delito: realocar verbas para garantir a provisão de recursos para programa sociais.

Numa aliança espúria entre um vice-presidente traidor, um Congresso servil, um Judiciário subserviente, uma mídia obediente ao grande capital e o dinheiro grosso do mundo do dinheiro, uma presidente legitimamente eleita foi derrubada.

Os fatos do momento e os que vêm emergindo não deixam dúvidas. Na verdade, o objetivo sempre foi apagar a herança de conquistas sociais iniciadas no governo Lula em 2003. Os resultados estão aí. A escumalha do topo da pirâmide social levou o país a ser dirigido por um bandido.

Crimes de responsabilidade? Perto do que Dilma foi acusada sem razão, a "famiglia" Bolsonaro ganha de lavada. Assassinatos, roubo de dinheiro público, fraude eleitoral, associação com milicianos, manipulação de dados etc. etc. etc. Maiores informações nas dezenas de pedidos de impeachment do capitão expulso do Exército.

Livre para voar, Bolsonaro e sua máfia sentem-se à vontade. Já mataram mais de 400 mil brasileiros ao menosprezar a pandemia. A CPI da Covid, se serve para alguma coisa, é para demonstrar o desprezo desta turma com a vida do povo.

O ex-ministro Mandetta não é exatamente flor que se cheire. Aliás, qualquer um que aceitou ou aceita um cargo no governo presidido por alguém com o prontuário de Bolsonaro não merece muito crédito. Mas briga entre “cúmplices” de ocasião é assim mesmo.

No seu depoimento na CPI e de olho nas urnas, Mandetta divulgou uma carta que teria enviado ao capitão terrorista. Por que esta carta até hoje não tinha vindo a público só tem uma razão: o ex-ministro estava esperando o andar da carruagem.

Em todo caso, o documento é devastador. Segundo ele, cogitou-se até reescrever bula de remédio por decreto para sacramentar delírios cloraquinísticos. Bolsonaro não negou ter recebido a carta. Sim, Mandetta tem contas a pagar por ter escondido tudo isto.

Que Bolsonaro é um desequilibrado, disso não há mais dúvida. Mas não age sozinho. Observem os lucros dos bancos num momento em que o mundo padece de uma doença mortal. Bradesco, Itaú: crescimento de 60% a 70%. Compare isso com o que vem acontecendo com aqueles que pensavam ter subido de classe social. Ou com seu próprio holerite, se é que você tem algum ainda.

É essa retaguarda unindo ricos, Judiciário de segunda, parlamentares de terceira e grande mídia acovardada que permite a Bolsonaro chamar de “canalhas” os que pretendem, por motivos sinceros ou eleitorais, salvar vidas com medidas básicas de enfrentamento à pandemia. O mesmo cobertor que aceita as desculpas esfarrapadas do ex-ministro Pazuello para escapulir da CPI.

Ainda bem que o Brasil não está em guerra. Imagine um general como esse dirigindo alguma tropa. Ao primeiro tiro, ele estaria escondido debaixo da mesa de self-service de shopping, sem máscara e muito menos vergonha. Disfarçado de atendente, “obedecendo aos que mandam”.

O Brasil vive um sofrimento diário. Faltam vacinas em várias capitais e cidades. As mortes se sucedem aos milhares, sem contar as não notificadas. Não é por falta de dinheiro. Os bilionários estão cada vez mais ricos, os pobres ficam cada vez mais pobres. Como diriam os acadêmicos com algum neurônio em ordem, trata-se de um problema “sistêmico”. Mudar o sistema começa por mudar o mais rápido possível aqueles que o representam.

A oposição (procura-se...) que não se iluda em fechar acordos com aqueles que ajudaram a aplicar o impeachment de 2016. Fazer isto é simplesmente desenhar um próximo golpe. Que tal recorrer ao povo para fazer a verdadeira democracia funcionar?

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