Ricardo Melo

Jornalista e apresentador do programa 'Contraponto' na rádio Trianon de São Paulo (AM 740), foi presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação).

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Pau que bate em Lula não bate em Paulo Guedes

Mídia oficial esconde um escândalo de proporções planetárias

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Impossível esquecer. Quando a caça a Lula estava a todo vapor, qualquer suposto indício de malfeitos virava manchete de jornais, telejornais e mídia oficialista em geral.

Entre outros disparates, atribuíram ao ex-presidente um apartamento minúsculo numa praia decadente e a posse de um sítio modesto –fatos nunca provados.

Até um roupão com suas iniciais encontrado em Atibaia foi listado. Foi-se mais longe. Um barco de alumínio, que mal valia R$ 3.000, ganhou ares de iate em letras garrafais.

Nem cosméticos nacionais de dona Marisa escaparam do “conjunto probatório.” Não à toa todos estes processos vêm sendo anulados pelo pouquinho de justiça por estas bandas.

Agora está-se diante um escândalo de dimensões planetárias. Os Pandora Papers resultam do exame de mais de 11 milhões de documentos que iluminam a ciranda financeira do grande capital em paraísos fiscais.

Entre os ricaços, mandatários e ex-mantarários que ocultam fortunas lá fora, estão os dois principais responsáveis pela política econômica brasileira. A mídia oficial daqui, porém, vem tratando o assunto com discrição monástica.

Descobriu-se que Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, mantinha no Panamá uma offshore para chamar de sua. Diz que foi fechada no ano passado. Só que ele já estava no cargo de principal autoridade monetária havia mais de um ano.

Já no posto, Campos Neto assinou uma portaria sobre declaração de ativos no estrangeiro. Até então, todo brasileiro com mais de US$ 100 mil lá fora tinha que informar o BC anualmente. A mudança elevou este valor para US$ 1 milhão.

O caso mais grave, sem dúvida, é o do ministro Paulo Guedes, sempre ele. Sabe-se agora que ele mantém pelo menos US$ 9,5 milhões (cerca de 50 milhões reais em dinheiro de hoje) devidamente escondidos no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas –na verdade um Lupanar fiscal.

A conta foi aberta em 2014 na surdina. Permaneceu ignorada até os Pandora Papers.

Não se sabe o que é mais escandaloso, se a tramoia mantida à sorrelfa ou as desculpas do pessoal pego com a boca na botija.

Segundo Guedes, está tudo nos conformes. Diz que já abandonou a gestão da “Encouraçado Internacional”. Acontece que seus sócios são...sua mulher e sua filha! Me engana que eu gosto.

Afirma ainda que passou pelo crivo da Comissão de Ética Pública da Presidência, que aliás demorou dois anos para examinar o seu caso. Comissão que, diga-se de passagem, só puniu um servidor, se tanto, desde que foi criada.

Ocorre que normas, regimentos e incisos proíbem cabalmente o exercício de função pública quando há conflitos de interesses entre o ocupante do cargo e seus negócios privados.

Roberto Campos Neto e Paulo Guedes integram, junto com o secretário especial da Fazenda, o Conselho Monetário Nacional. O CMN é responsável por “formular a política da moeda e do crédito”.

Quer mais poder do que isso? Cada mudança no preço do dólar passa por essa troika –na verdade, por essa dupla. E deixa mais ricos os que vivem da especulação, como eles.

Não bastasse isso, Guedes interfere na reforma tributária sobre a tributação de dividendos obtidos no exterior. Na legislação atual, a taxa varia de 15% a 27,5%. A proposta aprovada na Câmara (falta o Senado) é podar a alíquota para 6% com algumas manobras contábeis.

A pilhagem dos recursos nacionais promovida por JMB (dito Bolsonaro) e seu homem-forte, Paulo Guedes, chegou a um nível dificilmente visto. Guedes é um verdadeiro Rolando Lero nas palavras.

“A economia está bombando”, enquanto o comércio anda para trás junto com a indústria.

“Não há problema no dólar alto”, ao mesmo tempo em que a população disputa ossos, a cesta básica dispara, os salários estacionam, o desemprego é colossal. O povo sofre até hoje por causa das negociatas com vacinas, que custaram 600 mil vidas.

Para JMB, Guedes e sua turma, o paraíso. Para o povo, o inferno dos impostos, da carestia do desespero e das mortes. Não há conserto possível com este governo.

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