Roberto Simon

É diretor sênior de política do Council of the Americas e mestre em políticas públicas pela Universidade Harvard

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Outsiders estão em baixa

Eleições em países vizinhos mostram que onda antissistema minguou

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A América Latina está prestes a embarcar em um intenso ciclo eleitoral. Antes de outubro terminar, Uruguai, Bolívia e Argentina celebrarão o primeiro turno de votações presidenciais e renovarão seus Congressos.

Até meados de dezembro, o mapa político de nossa vizinhança provavelmente terá sofrido câmbios decisivos.

As dinâmicas eleitorais são particulares em cada país. Mas, olhadas em seu conjunto, é notável como elas guardam diferenças profundas da safra de eleições latino-americanas de 2018.

 
No ano passado, as três grandes disputas presidenciais na região —México, Colômbia e Brasil— foram dominadas por candidaturas antissistema. O mexicano Andrés Manuel López Obrador, o colombiano Gustavo Petro e o brasileiro Jair Bolsonaro diferiam em orientação ideológica, virulência populista e poder de fogo eleitoral. 

Mas os três se apresentavam como alternativas radicais ao establishment, os únicos a encarnar a “verdadeira” vontade do povo para expurgar uma classe política corrompida. Em dois casos, venceram.

Uma dinâmica oposta rege as eleições deste ano. São disputas dentro do espectro político tradicional, dominadas por ex-presidentes, partidos históricos ou forças políticas de massa.

Candidaturas anti-establishment existem, mas sem chances de vencer. Para ganhar, os principais nomes tentaram se aproximar do centro.

No Uruguai, a centro-esquerda da Frente Ampla —no poder desde 2005— lidera com Daniel Martínez, o ex-prefeito de Montevidéu. Martínez tem uma margem de 15 a 20 pontos sobre duas candidaturas de centro-direita. Mas, unida, a oposição venceria um segundo turno apertado, segundo pesquisas.

Evo ignorou o referendo de 2016, que o proibia de sair novamente candidato, e largou na dianteira. O desgaste de um governo de 13 anos e incertezas sobre a economia já indicavam que sua terceira tentativa de reeleição seria a mais difícil. 

E os incêndios na Amazônia chamuscaram ainda mais seu favoritismo. Se Evo não conseguir vencer logo no primeiro turno, o ex-presidente Carlos Mesa tem boas chances de recolocar a centro-direita no poder.

E, na Argentina, Alberto Fernández aparentemente ampliou a vantagem sobre Mauricio Macri desde as primárias. Macri “peronizou” o governo, com moratória e afrouxamento fiscal, e “obamizou” a campanha, dizendo que “sí, se puede”. Mas suas chances são mínimas. 

Mesmo a governadora da Província de Buenos Aires, a estrela do macrismo María Eugenia Vidal, parece a caminho de uma derrota ao kirchnerismo.

A fraqueza dos outsiders nessa nova leva eleitoral tem causas diversas, mas uma delas certamente é a temática das eleições. Em 2018, dois temas —corrupção e segurança— tiveram uma importância extraordinária nas três disputas. Em um caldo com esses ingredientes, o discurso antissistema adquiriu uma potência anormal. 

A safra de 2019, porém, indica uma regressão à média: a economia figura hegemônica na lista de prioridades dos eleitores, como na maioria das eleições das últimas décadas. 

Uruguaios, bolivianos e argentinos estão indo votar em quem pode melhorar suas vidas objetivamente, com empregos, serviços públicos ou inflação sob controle —não em quem promete obliterar a classe política. Apostas arriscadas são bem menos atrativas.

Essa regressão à média não ficará restrita aos três países. Aliás, não seria uma surpresa vê-la chegar ao Brasil, já nas eleições do ano que vem.

As opiniões expressas acima não refletem necessariamente a posição do Council of the Americas

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