Roberto Simon

É diretor sênior de política do Council of the Americas e mestre em políticas públicas pela Universidade Harvard

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Roberto Simon
Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

Como Trump ainda pode vencer a eleição em novembro

Vantagem do democrata Joe Biden é ampla, mas reversível

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Desde a reeleição de Bill Clinton, em 1996, os EUA não viam um candidato presidencial chegar às semanas das convenções partidárias com tamanha vantagem, como Joe Biden sobre Donald Trump.

Considerando a média das pesquisas, Trump não lidera em nenhum dos seis estados que devem decidir o páreo. O melhor que consegue é empatar na Carolina do Norte. Em Wisconsin, Pensilvânia e Michigan —onde republicanos conseguiram virar o jogo em 2016, derrotando Hillary Clinton nos três por menos de um ponto—, Biden lidera com margens expressivas, de 3,5 a 7 pontos.

As pesquisas erraram feio em 2016, sobretudo porque falharam em interpretar intenção de voto e dinâmicas de comparecimento às urnas. Mas Biden surfa uma onda que Hillary jamais pegou. Mesmo simulando distorções anteriores, ele se mantém firme na dianteira.

Em outras palavras: se a eleição fosse hoje, Trump levaria uma surra antológica. E, além de serem defenestrados da Casa Branca, republicanos provavelmente perderiam sua maioria no Senado.

No dia 1º de janeiro, o Partido Democrata mais à esquerda da história recente –muito mais do que aquele levado ao poder por Barack Obama, em 2008– assumiria as duas rédeas, executiva e legislativa, da política de Washington.

Agora vem o grande porém: a eleição é apenas em novembro. E esses dois meses de campanha com pandemia, recessão, distúrbios e vale-tudo trumpista serão uma eternidade. Não faz sentido descartar a possibilidade de mudanças drásticas no cenário eleitoral.

O que precisaria acontecer para Trump conseguir ser reeleito? Provavelmente três coisas.

A primeira será convencer grupos fora de sua base de que ele, e não Biden, é a melhor opção para reconstruir os EUA no pós-pandemia. Não será fácil, mas foi essa uma das mensagens do último dia da convenção republicana.

Segundo uma pesquisa da CNN, 58% dos americanos põem na conta de Trump o fracasso americano na luta contra o vírus. (Uma comparação: o Datafolha revelou que só 11% dos brasileiros acreditam que Jair Bolsonaro tem responsabilidade sobre o morticínio no país.)

Mas eleitores são obrigados a escolher entre alternativas concretas, olhando para frente. Sondagens mostram que uma das únicas áreas em que Trump supera Biden com folga é a economia: 48% acreditam que ele fará um melhor trabalho, comparado a 38% ao democrata. Será esse o grande tema da eleição, e o discurso “você pode não gostar de Trump, mas é ele quem te ajudará a se recuperar financeiramente” é poderoso.

Essa ideia ganhará ainda mais tração caso Biden comece a tropeçar —a segunda ponte a uma vitória de Trump. O ex-vice-presidente é conhecido como um boquirroto, que se confunde facilmente, com um histórico de gafes que dizimou campanhas anteriores.

Em uma entrevista recente, disse que, se achasse necessário, colocaria os EUA em um "lockdown" completo —um pesadelo à maior parte do eleitorado. Como a história de Hillary em 2016, o desânimo com o candidato, somado à percepção de que o jogo está ganho, pode manter eleitores democratas em casa.

O terceiro ponto são os golpes abaixo da linha da cintura da democracia que Trump já está desferindo. Sob a nova chefia de um doador de campanha do presidente, os correios começaram uma operação tartaruga, removendo máquinas de centros de distribuição e cortando horas de trabalho.

Indiscreto, Trump foi ao Twitter indicar que a mudança estava relacionada à eleição. Com a pandemia, o número de votos por correio deve ser recorde, e pesquisas mostram que a maior parte deles será para Biden.

Some-se a isso as tentativas de supressão do voto negro, a pressão de Trump para postergar o dia da votação, o caldo de fake news —alimentadas pelo presidente— sobre fraude eleitoral, e indicações de que não reconhecerá a derrota. Pela primeira vez na história, os observadores internacionais do Centro Carter —acostumados a acompanhar votações em países como Bolívia e Afeganistão— decidiram monitorar o voto americano, citando a “erosão democrática” dos EUA.

Os modelos do guru estatístico Nate Silver e da consultoria Eurasia colocam as chances de Trump entre 30% e 35%. Não é uma probabilidade baixa. Em uma simulação de dez votações, ele venceria três delas. Considerando o que mais quatro anos de trumpismo representariam aos EUA e ao mundo, é ainda um quadro assombroso.

As opiniões expressas acima não refletem necessariamente a posição do Council of the Americas.

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