Roberto Dias

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Quem disse que o crime não compensa?

Um ano após o escândalo da JBS, os três principais personagens estão no mesmo endereço de antes

Da esq. para a dir., o presidente da República, Michel Temer, o senador Aécio Neves (PSDB) e o empresário Joesley Batista
Da esq. para a dir., o presidente da República, Michel Temer, o senador Aécio Neves (PSDB) e o empresário Joesley Batista - Pedro Ladeira/Folhapress

O Brasil voltou um ano em um ano. O Planalto pode escolher onde colocar as, vírgulas, mas não há como dizer que o país está melhor do que em 17 de maio de 2017, quando estourou o escândalo da JBS.

A agenda reformista deu lugar a um governo na defensiva, que gastou o que tinha e o que não tinha para evitar o afogamento. A ponte para o futuro não mais chegará até a outra margem do rio, e o timoneiro da recuperação econômica já pulou fora do Ministério da Fazenda.

A despeito desse custo para o Brasil, os três principais personagens do escândalo podem ser encontrados nos mesmos endereços de antes. 

Michel Temer continua sentado naquela cadeirinha do Planalto. Não que tenha faltado telhado de vidro para acertá-lo ali —o material disponível daria, por exemplo, para cobrir todo o Porto de Santos.

Aécio Neves se manteve senador e engatinha pelas sombras da política atrás de novo cargo público, com o foro especial decorrente dele.

Joesley Batista está em casa e cada vez mais rico. Único dos três que é criminoso confesso, viu o lucro de sua empresa subir 43,5% no primeiro trimestre —movimento bem distante do da economia brasileira.

É inegável que a trapalhada da PGR ao concentrar energia numa gravação inconclusiva e não periciada contribuiu para tal cenário. Os problemas do caminho janotiano, que incluem o risível acordo de leniência, só foram ficando mais nítidos.

A corrupção declarada pela JBS, envolvendo centenas e centenas de políticos, não é um mal menor, muito pelo contrário. Dinheiro público desviado mata gente: são pessoas que morrem por falta de ação do Estado nas filas de hospitais e nos tiroteios urbanos. 

A justificada revolta social contra quem bate uma carteira à mão armada não tem paralelo com os casos em que alguém toma um monte de dinheiro de milhões de pessoas, deixando ainda um rastro de crise política e econômica. Alguns crimes podem compensar, e muito.

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