Não tem a palavra Facebook nem o nome de Mark Zuckerberg. O anúncio da saída de Jan Koum é gritante pelo que deixa de dizer.
Principal criador do WhatsApp, o ucraniano despediu-se na segunda (30) da empresa Facebook, que comprou seu aplicativo por US$ 19 bilhões quatro anos atrás.
Em seu post de saída, ele avisa que vai colecionar Porsches e jogar frisbee.
Não fala dos embates internos para preservar a criptografia do aplicativo de mensagens, relatados pelo jornal Washington Post. Também não conta quão problemática foi para ele a integração dos contatos do WhatsApp ao Facebook. Nem relata a pressão para encontrar uma maneira de tornar lucrativo seu app sem recorrer a publicidade —algo que, na sua visão, transforma as pessoas em produtos.
Em 2014, Koum foi entrevistado pela Folha na semana seguinte ao anúncio do negócio com o Facebook. Foi bem claro ao dizer que as duas operações deveriam continuar a ser independentes: “Tanto eu quanto Mark acreditamos que, quando você começa a integrar, é quando tudo quebra”.
O curso da história, como se sabe, não seguiu nesse sentido. A trilha escolhida por Zuckerberg tem obtido resultados impressionantes (no primeiro trimestre deste ano, um faturamento de quase US$ 12 bilhões), só que num caminho cada vez mais tortuoso.
O escândalo da Cambridge Analytica destapou a falta de transparência no uso dos dados do Facebook e levou seu fundador a depor no Congresso.
A saída de Koum, que integrava o Conselho de Administração do Facebook, não só agrava a situação como a expõe de maneira ainda mais clara. Não há convergência possível entre a visão dele (e a de seu ex-sócio Brian Acton, que se engajou no #deleteFacebook) e a de Zuckerberg, por mais que todos tentem defender o contrário.
Ironicamente, reside no WhatsApp a maior de dor de cabeça à vista para a empresa. Habitat natural de fake news, o aplicativo tem tudo para ser objeto de muita controvérsia na maior eleição de chefe de Estado deste ano: a do Brasil, onde o serviço já superou 120 milhões de usuários.
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