Roberto Dias

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A humanidade dividida ao meio pela tecnologia

Pessoas com conexão à internet obtêm uma imensidão de vantagens

Balão utilizado em área remota da Nova Zelândia para proporcionar internet sem fio com velocidade 3G
Balão utilizado em área remota da Nova Zelândia para proporcionar internet sem fio com velocidade 3G - Jon Shenk - 9.jun.13/Reuters

Poucas coisas são mais esperadas no mercado digital do que o relatório anual da analista americana Mary Meeker. Sócia da Kleiner Perkins, uma empresa de capital de risco, ela analisa o que acontece com a economia e com os hábitos por causa do impacto tecnológico.

Os dados das quase três centenas de páginas da edição de 2018 permitem concluir que só vai aumentar a já imensa distância entre as duas metades da humanidade: a que está conectada à internet e a que não está.

Os de fora têm cada vez mais dificuldade para entrar. O crescimento da rede desacelerou bruscamente, até porque há muita confusão sobre quem deveria pagar a expansão. “Tem sido mais difícil crescer após ultrapassada a penetração de 50% do mercado”, diz Meeker. Decorrência disso, 2017 foi o primeiro ano em que não aumentou o número de smartphones levados ao mercado.

Quem está dentro tem uma vida cada vez mais digital e obtém uma imensidão de vantagens. Um exemplo é o mercado de trabalho. Meeker perfila-se ao lado dos que acreditam que a tecnologia tem impacto benéfico. Argumenta além da questão quantitativa: diz que a internet facilita trabalhar como freelancer e que tais profissionais mantêm ritmo de aprendizado mais acelerado, além de poderem escolher quando e onde querem trabalhar —como ocorre com os motoristas da Uber.

No caso dos dados, o ouro digital, existe um paradoxo da privacidade. As pessoas não querem ver suas informações exploradas, mas o uso delas aumenta sua satisfação. Não só isso: os dados abrem caminho para reduzir custos como os com saúde.

O mundo de oportunidades discutidas por Meeker, vale lembrar, aplica-se apenas a metade dos humanos. Ela passa ao largo do aspecto da cidadania, mas não é difícil derivar até ele discussões como as que levanta, começando pelo acesso à informação. A bola de neve contra os mais pobres ficou ainda mais brutal, e os incentivos para detê-la não estão sendo suficientes.

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