Roberto Dias

Secretário de Redação da Folha.

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Roberto Dias
Descrição de chapéu Copa do Mundo

Abaixo o VAR

Já ficou mais do que claro que o árbitro de vídeo não vai resolver as polêmicas no campo

Pelos novos ventos do futebol, pelada agora é assim: duas pessoas tiram par ou ímpar e escolhem os times, os menos habilidosos são encaminhados ao gol e à zaga, a pessoa que não quer jogar pega o apito e quem ficou de fora passa o tempo todo com o celular na mão, filmando para efeitos de VAR.

Ok, o exemplo contém exagero. Mas não está distante de um problema real que passou a existir no futebol profissional. Para resolver uma injustiça nas partidas da elite, o VAR (árbitro assistente de vídeo) criou outra, maior: a de critérios muito diferentes no mesmo esporte.

A tecnologia implementada nesta Copa exige que cada estádio tenha uma ilha de edição de vídeo, que se vale de dezenas de câmeras, num conjunto operado por uma equipe de arbitragem que duplica a anterior.

O futebol movimenta muito dinheiro sim, mas na ponta. O grosso do esporte não tem meios para abraçar essa causa —nem o Campeonato Brasileiro da Série A chegou lá.

Que o VAR não resolve as polêmicas já ficou mais do que claro. Muito se fala também sobre a honestidade que ele traria ao jogo. É argumento inocente: como a decisão continua passando pelo árbitro, a avenida para manipulação se mantém aberta.

Pior, a caixa-preta talvez tenha ficado ainda mais preta. Até aqui, a Fifa se blindou de questionamentos ao VAR. Diz que está feliz com o mecanismo, mas não comentará caso a caso. Os critérios ainda são obscuros. Como ficará o sistema de avaliação dos árbitros? Não se sabe.

A mudança que a tecnologia produz no ritmo e no destino dos jogos é inegável. Nesta Copa, a decisão inicial do juiz foi alterada em 10 de 13 lances interpretativos. Não é difícil imaginar o que ocorrerá com a autoridade de um árbitro de Série C, apitando contra o time da casa, num jogo sem VAR filmado por torcedores.

É ótimo que tudo se modernize. Mas adotar árbitro de vídeo não parece ter sido muito inteligente. O futebol se tornou o esporte mais popular do mundo porque é simples —tudo o que esse novo futebol não é.

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