Roberto Dias

Secretário de Redação da Folha.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Roberto Dias
Descrição de chapéu Eleições 2018

No jogo do mercado financeiro, fake news é real money

Boato eleitoral sempre existiu, mas atualmente há agravantes

Presidenciáveis participam nesta quarta (8) e quinta-feira (9) de encontro do BTG Pactual, na Casa Fasano, na capital paulista; na foto, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin
Presidenciáveis participam nesta quarta (8) e quinta-feira (9) de encontro do BTG Pactual, na Casa Fasano, na capital paulista; na foto, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin - Ciete Silvério/Divulgação

“Boato/rumor: sinônimos de informação não confirmada. Só publique quando sua propagação se tornar notícia. Exemplo: o boato da destituição do presidente do BC provoca a queda da Bolsa. Nesse caso, deve-se noticiar a queda da Bolsa e deixar claro que a informação sobre a destituição no BC não está confirmada.”

Esse trecho do "Manual da Redação" da Folha é ótima releitura. Pois a campanha eleitoral promete testar ao limite o sentido dessa orientação, como mostra a semana em curso.

Na terça (7), um boato dava conta de que seria feita uma delação contra Geraldo Alckmin. Não comprovar a veracidade desse tipo de rumor não significa desmenti-lo —por ser impossível atestar que alguém (não se sabe quem) não vai (algum dia) afirmar algo (qualquer coisa).

Outro boato especulava sobre pesquisa do instituto MDA. Aqui, a Lei Eleitoral, tão ciosa de tutelar tudo, deixa lacuna pró-confusão, pois determina o aviso sobre o levantamento com cinco dias de antecedência, mas não dá prazo para divulgação.

Também na terça, um terceiro rumor versava sobre o Datafolha indo registrar uma pesquisa. O que leva a novo problema. Enquanto os institutos de renome têm de cumprir vários requisitos de publicidade, outros tantos levantamentos são feitos na moita, em prol de grupos restritos.

Boato eleitoral sempre existiu, e quem viveu a campanha de 2002 sabe o nível de nervosismo que ele traz. Só que há dois agravantes agora. Primeiro, é mais fácil espalhar qualquer coisa. Segundo, a maluquice do noticiário brasileiro recente tem um efeito terrível: tudo e o oposto de tudo se tornaram críveis.

A montanha-russa eleitoral faz mal a quem procura emprego. Para o mercado financeiro, a campanha é uma grande oportunidade. A banca vive sob regras próprias; quem participa dela influencia o debate público, mas não precisa demonstrar compromisso público. Tem zero obrigação de dizer a verdade. Nesse jogo, fake news é real money.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.