Roberto Dias

Secretário de Redação da Folha.

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Roberto Dias
Descrição de chapéu Eleições 2018

Em campanha de pega-pega com esconde-esconde, quem perde é o eleitor

Existem dezenas de ações mais antigas e avançadas que as pessoas desconhecem

A prisão de Beto Richa presta-se a duas leituras opostas. 

Uma é ruim para o PSDB: com dois ex-governadores importantes na cadeia, o partido não tem como passar a campanha apontando o dedo para o PT no tocante à corrupção.

Outra é ruim para o PT: fica difícil sustentar o discurso de que a Lava Jato quer só tirar Lula do páreo, pois na mesma Curitiba em que ele está preso foi detido um cacique tucano.

Acontece que os vetores contrários não contam toda a história.

Chama a atenção o fato de as duas ações contra Richa terem sido executadas no mesmo dia, a menos de um mês da votação, sendo relativas a algo que ocorreu de 2012 a 2014, contra alguém que perdeu o foro especial em abril. Ainda assim, fosse esse um caso isolado, vá lá, já que cada processo jurídico tem seu curso. 

Policiais durante operação que levou à prisão de Beto Richa
Policiais durante operação que levou à prisão de Beto Richa - Geraldo Bubniak/Ag. O Globo

Mas são dias de saraivada do Ministério Público, que mirou dois candidatos a presidente (o tucano Geraldo Alckmin e o petista Fernando Haddad) e um governador-candidato (o tucano Reinaldo Azambuja, de MS).

O estranhamento levou o Conselho Nacional do Ministério Público a investigar os promotores envolvidos —decisão que a força-tarefa da Lava Jato considera intimidatória. 

Ainda que as apurações contra os políticos estejam em estágio inicial, o impacto eleitoral é evidente. Só que existem dezenas de ações mais antigas e avançadas, sobre gente que faz sorridente campanha por aí sem que o eleitor saiba se deveria estar na urna ou na cadeia. Ou pior, o cidadão desconhece a acusação, “escondida” que está no Judiciário.

Apenas da Lava Jato são 19 réus candidatos. No STF, há inquéritos que se arrastam há mais de dez anos, permitindo que os políticos se candidatem e recandidatem. Renan Calheiros, que tenta continuar no Senado, é o nome mais famoso da turma. 

A estridência do Ministério Público em período eleitoral somada à lentidão de sempre dos tribunais resulta em deformação —uma imensa assimetria de informações do sistema jurídico em prejuízo do eleitor.
 

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