A distância crescente que nos separa do que ocorre no mundo fica explícita em casos como o da Huawei. O Brasil entra na história por um caminho que passa longe de qualquer estratégia nacional. A tática mais parece a de um pedinte.
O vice Hamilton Mourão acha importante ser receptivo aos chineses porque geram empregos. No mais, oferece como argumentos uma novidade linguística (“nessa questão de tecnologia e inovação a gente tem que adotar um dispositivo de expectativa”) e o velho deslumbramento palaciano (“recebi representantes da Huawei em meu gabinete, apresentaram planos de expansão”).
As teles são mais diretas. “Acho inimaginável para um país pobre como o nosso que se pense em substituição de rede de um fabricante de ponta. Não é conversa para nós. Isso é para EUA, Reino Unido, Japão”, disse o presidente da Claro, José Félix.
De fato, lá fora a conversa é outra. No Reino Unido, duas operadoras travaram a venda de aparelhos da Huawei. No Japão, as três maiores teles suspenderam lançamentos da marca. Na Índia, discute-se como diminuir a dependência dos chineses.
Muito interessante é o caso da Austrália. O país virou um laboratório da influência chinesa, que impulsiona décadas de crescimento contínuo na ilha. Mas foram justamente os australianos quem primeiro colocou em xeque a tecnologia da Huawei.
A disputa —um assunto global que muito interessa a Donald Trump na política doméstica— rememorou aos chineses como é perigoso depender dos outros. Quem vai querer um celular sem Google Maps ou Gmail?
No caso brasileiro, o episódio serviu para lembrar que temos um presidente que adula os EUA e um vice que bajula a China. Poderia até haver esperteza aí, como a da ditadura varguista na escalada da Segunda Guerra. Mas o movimento mais se assemelha à casca caricatural da Política Externa Independente de Jânio Quadros. A de agora, porém, estaria mais bem definida se batizada de Totalmente Dependente.
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