O que significa uma data festiva? No caso dos países, os dias nacionais revestem-se de sentidos muito diversos.
Os alemães festejam a reunificação. Os italianos lembram a votação sobre a forma de governo após a 2ª Guerra. Os espanhóis comemoram a chegada de Colombo ao Novo Mundo. Os franceses demarcam a Tomada da Bastilha. Os chineses celebram a fundação de sua república.
Nas Américas, as datas apontam o momento em que as colônias firmaram desprendimento das matrizes europeias. Único país do continente que se libertou da metrópole e continuou sendo uma monarquia, o Brasil celebra em setembro a emancipação de Portugal e em novembro a transformação em república.
A Independência brasileira disputou holofote, nos primeiros anos, com a data da aclamação de seu protagonista, d. Pedro 1º. Consolidada a primazia do 7 de Setembro, ele foi chamado, em seu sesquicentenário, de “dia maior do que todos os dias”, pelo presidente de turno, Médici.
Na democracia, a data ganhou utilidades várias. Com Sarney, as Forças Armadas mostravam suas novas armas. Collor buscou uma demonstração de força pessoal e deu ruim. FHC engatou uma agenda de direitos humanos e viu crescer o Grito dos Excluídos. Lula usou a data até para se defender do mensalão. Dilma decretou energia mais barata na marra —ocorreu o contrário, ora pois.
Uma coisa ficou igual: presidente em má fase sempre dá um jeito de se blindar de vaias. Houve também melhora: mesmo na versão vitaminada deste ano, o desfile em Brasília é menor e mais barato do que já foi.
O resto piorou. O 7 de Setembro de 2019 resgata a disputa colorida de três décadas atrás, um debate desde sempre obtuso, agora tingido de um patriotismo de conveniência, para entreter uma população que chicoteia jovem negro e picota baleia encalhada para comer. Num país que um dia sonhou planejar seu bicentenário, a agenda a três anos da efeméride é pior do que desanimadora.
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