Roberto Dias

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O desfuncionalismo público brasileiro

Com lobby mais silencioso, servidores aumentam privilégios em realidade paralela

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Se há um grupo que demonstra pouca preocupação com a crise econômica do coronavírus, este é o do funcionalismo público. Suas categorias aprenderam a operar seus lobbies de maneira bem mais silenciosa do que antigamente.

Tal qual uma casta descolada da realidade, passam ao largo da luta contra redução de jornada e salário, demissões, perda de benefícios. Tampouco precisam de ajuda emergencial. Essas preocupações pungentes para a maior parte da sociedade brasileira não são uma questão para os servidores. A meta, no caso deles, é outra: querem aumento de salário.

Em pelo menos oito unidades da federação, já conseguiram. Mato Grosso, talvez o caso mais acintoso, dobrou o subsídio a presidentes de autarquias e fundações do estado, elevando-o a R$ 18,2 mil. O estado, vale lembrar, está neste momento em estado oficial de calamidade pública.

A coisa pode piorar em Brasília, caso o Planalto não cancele a regra que blinda várias categorias de funcionários públicos do congelamento de salários previsto para durar até o final de 2021. Parece haver uma rara confluência de interesses políticos em favor do veto —mas o presidente, sabe-se, é imprevisível.

A sensibilidade de Brasília ao mundo real é baixa, como denota a entusiasmada oferta de informação, feita pelo governo, sobre o auxílio emergencial de R$ 600 num aparelho Alexa que custa R$ 249. O Congresso não fica atrás, gastando dinheiro no meio da pandemia até com impulsionamento em redes sociais para mensagem de caráter particular.

Cortar salário não passou nem perto de acontecer na cidade, com eleitos ou não eleitos. As garantias do emprego público fazem do Distrito Federal um paraíso de renda alta e estabilidade nas recessões.

Crises aumentam a diferença salarial entre os setores públicos e privados. Desde que a economia começou a descer a ladeira por aqui, há seis anos, o rendimento médio do funcionalismo subiu 10% em termos reais, enquanto o ganho privado ficou estagnado, segundo o IBGE. De 2014 a 2018, os gastos com funcionários ativos de União, estados e municípios foram de 12,3% do PIB para 13,6%, aproximando-se da casa do trilhão de reais.

​As demissões pós-coronavírus já afetam 40% das empresas do setor privado, mostra a FGV. É preciso enfrentar com mais força o vetor de desigualdade no qual o funcionalismo público, infelizmente, se transformou.

Servidores contra a reforma da Previdência em 2003, tempo de manifestações mais ruidosas - Alan Marques - 11.jun.2003/Folhapress

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