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A ascensão da ginástica brasileira

Tóquio reforça posição na elite mundial, fruto de planejamento acertado

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“Normal para mim é bom”, dizia o ucraniano Oleg Ostapenko durante suas incursões à língua portuguesa.

Morto no início deste mês, Oleg formou com sua mulher, Nadja, e a compatriota Irina Iliachenko uma trinca fundamental para uma vertiginosa construção olímpica: a ascensão da ginástica artística brasileira.

Os técnicos estrangeiros aterrissaram em Curitiba na virada dos anos 1990 para os anos 2000 e mudaram o patamar do esporte, que tem a distinção de ser um dos presentes no programa olímpico desde os Jogos de Atenas-1896.

Daiane dos Santos e Oleg Ostapenko no centro de treinamento da Confederação Brasileira de Ginástica em Curitiba - Guilherme Pupo - 15.set.2003/Folhapress

​Em Tóquio, essa revolução desembocou na primeira medalha feminina da ginástica, de Rebeca Andrade, prata no individual geral nesta quinta (29).

Do “Brasileirinho” de Daiane dos Santos ao “Baile de Favela” de Rebeca há uma história digna de nota.

No fim dos anos 1990, acertadamente, o Comitê Olímpico do Brasil e a Confederação Brasileira de Ginástica enxergaram na modalidade um atalho para os pódios, que são numerosos (14) neste esporte.

Canalizaram recursos, especialmente da chamada Lei Piva e do fundo Solidariedade Olímpica, do Comitê Olímpico Internacional, e alcançaram bons resultados: cinco medalhas olímpicas desde então, uma delas de ouro, títulos mundiais e uma enorme popularização do esporte, que hoje já não parece mais coisa só da terra de Oleg.

A chegada da ginástica brasileira à elite impressiona porque não foi uma construção de décadas e de muito dinheiro e extensa programação de TV, como nos casos do vôlei e do vôlei de praia. Nem resultado de tradições fincadas em segmentos da população brasileira, como se passou com o judô e a vela.

Todo esse aprendizado foi feito numa modalidade em que a faixa etária competitiva é baixa, o que obriga dirigentes e técnicos a lidar o tempo todo com crianças, adolescentes e familiares, o que decerto não facilita a vida num esporte que já é naturalmente de muita pressão e detalhe.

Como sói acontecer, o planejamento encontrou a personagem certa no momento certo. Era Daiane dos Santos, que ficou famosa aos 16 anos nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg-99, quando se soube que ela tinha um único patrocínio, de uma pizzaria gaúcha que atendeu a um apelo feito na TV. Pagavam-lhe o equivalente a 20 pizzas por mês. Daiane, aliás, não podia comer pizza, devido à preparação.

Pois ela se tornaria a primeira brasileira campeã mundial de ginástica e chegaria a Atenas-04 como favorita. Daiane acabou sem medalhas em Jogos. Mas deixou o tablado demonstrando maturidade que ajudou a não desviar o esporte do rumo do pódio. "Eu errei. É uma coisa que acontece. É esporte, erra-se às vezes", disse ela. Quatro anos depois, a ginástica brasileira erraria de novo; oito anos depois, chegaria ao ouro. É esporte, acerta-se às vezes.

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