Roberto Dias

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Descrição de chapéu Tóquio 2020 Boxe

As lutas nos Jogos

Faz sentido continuar distribuindo medalha para uma pessoa agredir a outra?

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“Eu vim aqui para arrancar cabeças”, avisou o boxeador espanhol Emmanuel Reyes em Tóquio.

A Carta Olímpica diz, em seu primeiro princípio fundamental, que “o Movimento Olímpico procura criar um modo de vida baseado...no valor educacional do bom exemplo”. É curioso que continue sendo tratada como absolutamente normal a distribuição de medalhas olímpicas para pessoas agredirem outras pessoas.

As lutas configuram uma tradição nas Olimpíadas e são imensas as diferenças entre elas (esgrima, judô, boxe, wrestling, taekwondo e o estreante caratê). Há casos de contato mínimo, como o da esgrima, centrado em sensores nas armas e nas roupas, e existe no outro extremo o boxe, o esporte de Emmanuel Reyes, que, como ele bem sabe, tem como clímax o nocaute, ou seja, a incapacitação do adversário para a disputa.

O boxeador Aliaksandr Radzionau, de Belarus, é socado pelo turco Necat Ekinci em Tóquio - Frank Franklin II/AFP

Boxe olímpico que voltou atrás em relação aos protetores de cabeça, retirando-os da disputa masculina sob a alegação de que aumentavam o risco em vez de diminuí-lo, mas mantendo-os na feminina por falta de estudo mais abrangente. Algo um tanto difícil para o público entender.

Do ponto de vista médico, não há dúvida sobre o risco. “O boxe é qualitativamente diferente de outros esportes por causa das lesões que provoca e deveria ser banido”, defende a Associação Médica Mundial. “É um esporte perigoso. Seu intuito básico é produzir lesão ao corpo focando especificamente a cabeça.”

Leis humanas proibiram há décadas as brigas de galo e, nos últimos anos, as touradas. A legislação que se aplicaria a agressões entre humanos na rua é suspensa no ringue porque as pessoas que estão ali concordaram em se agredir. Tudo isso em nome do interesse de muita gente em ver duas pessoas se socando --não custa lembrar que o o atleta mais bem pago do mundo atualmente é um boxeador e lutador de MMA, o irlandês Conor McGregor.

O boxe chegou a ficar sob risco no programa olímpico, mas não pelos motivos médicos e sim problemas de cartolagem. Chegará o momento de ser questionado seriamente pelos motivos certos.

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