Roberto Dias

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Descrição de chapéu Tóquio 2020 Vôlei de praia

O investimento no vôlei de praia

Será mesmo que o problema é falta de dinheiro?

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Não teve investimento”, afirmou Alison na saída da quadra após a derrota dos últimos brasileiros na chave do vôlei de praia. Bom, sempre é bom discutir a estrutura de cada esporte, ainda mais depois da pior campanha olímpica da história —pela primeira vez, as duplas saíram sem nenhuma medalha.

Daí a concluir que não houve investimento vai um larguíssimo passo.

O tradicional apelo ao argumento “falta apoio” estava demorando a aparecer nestes Jogos Olímpicos. Muito curiosamente, surgiu justamente numa confederação onde o dinheiro público é despejado em baldes de dezenas de milhões de reais por ano. Investimento que não começou outro dia; foi iniciado há três décadas, como o próprio banco lembra numa campanha publicitária recém-lançada. A longa parceria envolveu muitas conquistas esportivas e algumas suspeitas de corrupção.

Alison comemora título da etapa do circuito brasileiro de vôlei de praia em Cuiabá
Alison comemora título no circuito brasileiro do vôlei de praia - William Lucas - 27.out.19/Inovafoto/CBV

Só no último ciclo olímpico, e apenas do Banco do Brasil, foram mais de R$ 230 milhões destinados aos vôleis de quadra e de praia. No início desse ciclo, o próprio Alison, que é um dos atletas patrocinados também individualmente pelo banco público, teve aumento no dinheiro oriundo do BB, segundo relatou o UOL: de R$ 204 mil anuais para R$ 282 mil anuais, após levar o ouro na Rio-16.

Antes, quando o resultado era outro, a ênfase dos atletas era diferente. Alison ganhou a prata em Londres-12. Seu parceiro, Emanuel, afirmou: “A estrutura que temos hoje é muito melhor do que quando comecei”. O texto da Folha da época detalhava os benefícios: “Desde 2011, cada uma das parcerias brasileiras, candidatas a medalha em Londres, passou a viajar com uma comissão técnica formada por quatro profissionais. Antes, só o técnico viajava com a dupla. Além disso, o COB, que para 2016 prevê quatro medalhas no esporte, comprou areia do evento-teste do Horse Guards Parade para levá-la para o Crystal Palace, onde treina a delegação brasileira. A ideia era simular as mesmas condições da competição”.

O investimento público no esporte atingiu seu ápice na Olimpíada realizada no Brasil, como seria esperado. Bateu em R$ 3,2 bilhões, em valores atualizados, segundo levantamento da UnB (Universidade de Brasília). Recuou para R$ 2,9 bilhões na preparação para Tóquio, ainda acima dos R$ 2,6 bilhões antes de Londres-12.

Tudo isso, vale lembrar, numa década em que o Brasil empobreceu. A renda média caiu seguidamente, assim como o investimento público em proporção do PIB.

Agora, Alison diz que “o mundo descobriu que vôlei de praia é barato e dá medalha”. Se é barato, seria o caso de avaliar melhor como se está investindo no Brasil, e não de concluir que é preciso abrir ainda mais a torneira do dinheiro público, especialmente para modalidades que já têm tanto.

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