Assim como em 1968, veio do atletismo o desafio às regras do Comitê Olímpico Internacional sobre manifestações políticas.
Prata no arremesso de peso, a americana Raven Saunders cruzou os braços no pódio, num gesto que dedicou às pessoas oprimidas do planeta.
O COI bem que tentou jogar o problema para o lado do Comitê Olímpico dos EUA. Mas os americanos lavaram as mãos, argumentando que ela se manifestou depois do hino, sem atrapalhar a cerimônia, e jogou toda a pressão de volta para o colo do COI, que diz estar analisando o caso.
Também parece pouco provável que a federação internacional de atletismo se mexa para punir a atleta. Seu presidente, o ex-corredor Sebastian Coe, já se manifestou contra aplicar penas nesse tipo de situação. “Sinto que a atual geração tem mais vontade de se manifestar do que as anteriores.”
Para os Jogos de Tóquio, a proibição de manifestações políticas foi flexibilizada, dependendo do momento em que acontecem. Mas, em relação ao gesto de Saunders, a norma é claríssima: “manifestações não são permitidas (...) durante cerimônias oficiais (incluindo premiações de medalhas, abertura e encerramento)”.
No início dos Jogos, uma carta aberta com mais de 150 signatários, incluindo ex-atletas famosos, pediu ao COI que permitisse os protestos no pódio.
O comitê precisará agora decidir se levará adiante a aplicação da regra que inventou para tentar acomodar as pressões ou se fingirá que nada aconteceu. Os dois caminhos podem perfeitamente ensejar novos protestos.
Para piorar as coisas para o lado do COI, o ato de Saunders expôs a discordância absoluta dos americanos em relação à regra, estabelecida no famoso Capítulo 50 da Carta Olimpíada e agora adaptada.
Segundo relata o jornal “The New York Times”, há negociação em curso para abolir a proibição antes dos Jogos de Los Angeles, em 2028. Não parece improvável que o COI recue bem antes disso.
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