O avanço galopante das finanças sustentáveis não tem sido acompanhado pelo crescimento proporcional da oferta de especialistas nesta área. Vários estudos regionais ou profissionais têm destacado a carência de conhecimento técnico sobre sustentabilidade, tanto no mercado financeiro quanto no mercado corporativo.
Analisando o perfil de 1 milhão de profissionais de investimentos no LinkedIn, o CFA Institute destacou que menos de 1% tem formação nesta área, tornando a demanda por este tipo de expertise “muito alta”.
Deste problema derivam três consequências. A primeira é o lançamento de instrumentos financeiros ESG mancos e o vozear de anúncios infundados. Prioriza-se a velocidade em detrimento da qualidade e o produto ao invés do processo.
No Brasil, entre as largas dezenas de fundos ESG lançados nos últimos dois anos, a maioria não deverá atingir os requisitos mínimos de um novo standard global, liderado pelo governo do Reino Unido e a ISO (Organização Internacional de Padronização), para definir o que são fundos sustentáveis ou fundos responsáveis. Sem surpresas, muitos desses novos fundos no Brasil estão tendo dificuldades de captação.
A segunda consequência é a transformação dos poucos especialistas em ESG na nova pítia do Oráculo de Delfos. ESG é um tema complexo e demanda vozes múltiplas e contrastantes, bem como um debate público para gerar consensos alargados. O endeusamento do conhecimento de poucos —na imprensa e no mercado— leva à prescindível sobrevalorização da subjetividade.
A terceira consequência, inspirada pelas regras da demanda e da oferta, é o encarecimento de bons profissionais nesta área. São difíceis de recrutar e de reter. E como o seu salário acaba sendo desproporcional relativamente a outros profissionais do mercado com igual senioridade, muitas organizações financeiras optam por soluções caseiras de custo menor e, muitas vezes, de qualidade inferior.
O Brasil tem talentosos operadores em sustentabilidade corporativa, um número abastado de especialistas em políticas públicas de clima e desenvolvimento social e muitos analistas do perfil ESG de empresas. Mas faltam profissionais do mercado financeiro com capacidade de integrar ESG de forma sistemática e holística, incluindo em estratégias matemáticas de mitigação de risco e de identificação de oportunidades para destravar valor financeiro.
Muitas vezes os especialistas em ESG são vistos como os sanyasis dos mercados financeiros dada a sua devoção à causa. Mas ESG não é uma causa e não carece de devoção. A formação em torno de dados, práticas e políticas ESG deveria ser imbutida na formação tradicional de um profissional de finanças ao invés de ser tratada de forma ilhada.
Isso tornou-se claro para as principais escolas de negócio. Como salientou o Financial Times, são muitas as que têm se apressado para alterar os seus curricula de forma a responder à gula dos alunos e do mercado por esta nova área de conhecimento.
Entre os meus alunos, mestrandos e executivos, que cursam as disciplinas e cursos em finanças sustentáveis na escola de negócios onde leciono, o emprego é garantido. Muitos são contratados por organizações financeiras de vários países europeus, dada a sua formação em ESG. São recorrentes os pedidos que recebo de empregadores pedindo-me para encaminhar oportunidades para os melhores alunos.
Para quem não tem oportunidade de voltar à escola, também são crescentes as organizações que oferecem certificações em ESG para profissionais de investimentos.
O mercado financeiro é o maior empregador de graduados em matemática. Mas um bom profissional financeiro é, principalmente, aquele que consegue interpretar as dinâmicas humanas e planetárias onde se insere o mercado de capitais. Ter uma mente crítica, ser especialista em ESG, estudar humanidades e ter sensibilidade para as artes são as novas qualificações que diferenciam os profissionais de investimentos.
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