Rodrigo Tavares

Professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017

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Rodrigo Tavares

Faltam especialistas em ESG no Brasil

Escassez de profissionais com formação adequada asfixia o crescimento de investimentos sustentáveis e responsáveis

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O avanço galopante das finanças sustentáveis não tem sido acompanhado pelo crescimento proporcional da oferta de especialistas nesta área. Vários estudos regionais ou profissionais têm destacado a carência de conhecimento técnico sobre sustentabilidade, tanto no mercado financeiro quanto no mercado corporativo.

Analisando o perfil de 1 milhão de profissionais de investimentos no LinkedIn, o CFA Institute destacou que menos de 1% tem formação nesta área, tornando a demanda por este tipo de expertise “muito alta”.

Deste problema derivam três consequências. A primeira é o lançamento de instrumentos financeiros ESG mancos e o vozear de anúncios infundados. Prioriza-se a velocidade em detrimento da qualidade e o produto ao invés do processo.

No Brasil, entre as largas dezenas de fundos ESG lançados nos últimos dois anos, a maioria não deverá atingir os requisitos mínimos de um novo standard global, liderado pelo governo do Reino Unido e a ISO (Organização Internacional de Padronização), para definir o que são fundos sustentáveis ou fundos responsáveis. Sem surpresas, muitos desses novos fundos no Brasil estão tendo dificuldades de captação.

Foto área de mata com metade da imagem desmatada
Foto aérea mostra o desmatamento na reserva biológica das nascentes da Serra do Cachimbo em Altamira, no Pará - João Laet/AFP

A segunda consequência é a transformação dos poucos especialistas em ESG na nova pítia do Oráculo de Delfos. ESG é um tema complexo e demanda vozes múltiplas e contrastantes, bem como um debate público para gerar consensos alargados. O endeusamento do conhecimento de poucos —na imprensa e no mercado— leva à prescindível sobrevalorização da subjetividade.

A terceira consequência, inspirada pelas regras da demanda e da oferta, é o encarecimento de bons profissionais nesta área. São difíceis de recrutar e de reter. E como o seu salário acaba sendo desproporcional relativamente a outros profissionais do mercado com igual senioridade, muitas organizações financeiras optam por soluções caseiras de custo menor e, muitas vezes, de qualidade inferior.

O Brasil tem talentosos operadores em sustentabilidade corporativa, um número abastado de especialistas em políticas públicas de clima e desenvolvimento social e muitos analistas do perfil ESG de empresas. Mas faltam profissionais do mercado financeiro com capacidade de integrar ESG de forma sistemática e holística, incluindo em estratégias matemáticas de mitigação de risco e de identificação de oportunidades para destravar valor financeiro.

Muitas vezes os especialistas em ESG são vistos como os sanyasis dos mercados financeiros dada a sua devoção à causa. Mas ESG não é uma causa e não carece de devoção. A formação em torno de dados, práticas e políticas ESG deveria ser imbutida na formação tradicional de um profissional de finanças ao invés de ser tratada de forma ilhada.

Isso tornou-se claro para as principais escolas de negócio. Como salientou o Financial Times, são muitas as que têm se apressado para alterar os seus curricula de forma a responder à gula dos alunos e do mercado por esta nova área de conhecimento.

Entre os meus alunos, mestrandos e executivos, que cursam as disciplinas e cursos em finanças sustentáveis na escola de negócios onde leciono, o emprego é garantido. Muitos são contratados por organizações financeiras de vários países europeus, dada a sua formação em ESG. São recorrentes os pedidos que recebo de empregadores pedindo-me para encaminhar oportunidades para os melhores alunos.

Para quem não tem oportunidade de voltar à escola, também são crescentes as organizações que oferecem certificações em ESG para profissionais de investimentos.

O mercado financeiro é o maior empregador de graduados em matemática. Mas um bom profissional financeiro é, principalmente, aquele que consegue interpretar as dinâmicas humanas e planetárias onde se insere o mercado de capitais. Ter uma mente crítica, ser especialista em ESG, estudar humanidades e ter sensibilidade para as artes são as novas qualificações que diferenciam os profissionais de investimentos.

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