Rodrigo Tavares

Professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017

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Rodrigo Tavares

Precisamos de Glasgow para combater as alterações climáticas?

Solução imediata reside na tecnologia para reduzir emissões ou capturar carbono

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A agenda climática precisa de ser avivada. A raiva de Greta Thunberg banalizou-se. Os alertas cataclísmicos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) trivializaram-se. A incompetência de chefes de governo diluiu-se. Os anúncios não auditados de metas de neutralidade carbônica vulgarizaram-se. E ano após ano, COP após COP, vamos esperando por acordos que não são assinados ou não são cumpridos, ou depositando as nossas esperanças ou frustrações em meia dúzia de líderes que podem salvar o planeta.

É como se acreditássemos que Glasgow se tornasse uma nova vila de Tordesilhas ou que o centro de congressos local fosse uma nova Dumbarton Oaks —o berço de uma nova ordem mundial.

Não será. Mesmo que a COP26 seja um sucesso.

Alok Sharma, presidente da COP26 - Phil Noble - 10.nov.2021/Reuters

Onde podemos então focinhar por uma réstia de esperança, onde buscar um farrapo de luz? Na tecnologia. Mais uma vez. O colossal processo de descarbonização da economia mundial só poderá ser concretizado pela redução ou eliminação total das emissões de gases com efeito de estufa ou pela captura e armazenamento desses mesmos gases, já após chegarem à atmosfera.

Precisamos financiar e agigantar tecnologias que acelerem estas duas frentes. O debate sobre a primeira é mais maduro. Há um arsenal de tecnologias, a maioria em desenvolvimento, que levarão à redução ou eliminação de emissões, como o hidrogênio verde, carros elétricos alimentados a baterias de lítio e sódio, células fotovoltaicas orgânicas ou a mítica fusão nuclear.

Mas talvez o maior potencial, pelo menos o mais imediatista, resida na tecnologia de captura direta de carbono (conhecida como DAC), uma forma de abrandar o aquecimento global recorrendo à aspiração de gases de estufa diretamente da atmosfera. E também na tecnologia conhecida pela sigla CCS (captura e armazenamento de carbono), que passa por captar carbono diretamente no ponto de emissão —por exemplo a chaminé de uma usina. Existem 19 pequenas plantas DAC e cerca de 60 instalações de CCS no mundo.

Se o carbono, captado por intermédio de ambas as tecnologias, for simplesmente processado e injetado em reservatórios geológicos debaixo da terra (como acontece na maior planta DAC, recém-inaugurada na Islândia) ou em zonas de exploração de petróleo e gás já esgotadas, o seu potencial econômico e comercial é limitado.

Mas existem centenas de empresas que testam formas de converter o carbono captado em grafeno, gás comprimido ou liquefeito, gasolina, gasóleo, combustível de aviação, benzeno ou amoníaco (ambos usados na indústria química e de fertilizantes). Pode também ser combinado com hidrogênio para produzir metanol, que pode posteriormente ser utilizado como combustível ou como celulose, a partir da qual se pode produzir papel.

Dessa forma, o carbono poderá ser reutilizado ou reciclado em usos industriais e até agrícolas, o que ajuda a rebalancear os altos custos da tecnologia.

Obviamente que há o risco de tirarmos o pé do acelerador da descarbonização e da transição energética se conseguirmos inventar uma forma de poluir sem aquecimento global. Ao invés de prevenirmos o consumo excessivo de álcool, inventamos a cura para a ressaca e a cirrose. Mas no atual estado emergencial, não há espaço para idealizações.

Em Glasgow, a palavra deve ser dada aos cientistas e aos empreendedores.

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