Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Existe uma grande diferença salarial entre homens e mulheres. Não há só uma razão para isso. Mas uma variável importante é o fato de que empresas levam em conta a licença-maternidade na probabilidade de contratação e promoção. Mulheres não somente têm que lidar com a dupla jornada mas também veem suas carreiras prejudicadas. 

Embora o Estado pague pela licença, as empresas têm dois custos indiretos: contratar alguém temporariamente, que provavelmente será menos produtivo, e o capital de giro, pois a empresa primeiro paga o salário da nova mãe e só depois é reembolsada pelo INSS. 

Nosso modelo de licença-maternidade é excelente em termos de garantia de emprego e salário integral. 
Na Dinamarca, o período de licença é de até um ano, no qual os quatro primeiros meses são exclusivos das mulheres e os oito meses seguintes são divididos pelo casal como lhes convier. 

Mas isso gera problemas. Na maior parte dos casos as mulheres ficam em casa quase o ano inteiro de licença. É grande a discriminação no mercado de trabalho, a ponto de uma aluna me dizer que estava ponderando dizer explicitamente que não quer ter filhos em entrevistas de emprego. 

O modelo sueco é melhor. Lá, mães e pais têm direito a 480 dias de licença e são encorajados a dividi-los igualmente (para uma mãe solteira, toda a licença vai para ela). Os pais podem tirar a licença em qualquer período até os filhos completarem sete anos. Mas o Estado paga somente 80% do salário dos pais no período de licença. 

Desenhar um sistema ideal significa combinar os objetivos de cinco entidades: governo, empresas, pais, mães e filhos. Não é fácil, mas dá para fazer.

Uma das vantagens de estar numa universidade internacional é ter acesso a uma rede de colegas que vai de Prêmios Nobel até estrelas em ascensão no mundo acadêmico. Uma dessas novas estrelas é Christina Jenq, doutora pela Universidade de Chicago e especialista em mercado de trabalho e dinâmicas de gênero.

Em várias conversas e com base em vários artigos, concluímos que o melhor sistema para o Brasil seria o de manter a licença-maternidade como é hoje e criar uma licença obrigatória para os pais, de cerca de três ou quatro meses, após o período a que a mãe tem direito acabar. 

Claro que essa proposta traz custos e riscos. Aumenta o custo direto do governo e o indireto para as empresas. Isso também só funcionaria se os pais realmente aprendessem a cuidar dos seus filhos, dando a atenção necessária para eles. E ainda precisaríamos levar em conta a situação das mães soleiras. Mas não há mudança social sem custos. 

No fim das contas, essa proposta traria benefícios como a  diminuição da discriminação salarial entre homens e mulheres, igualando os custos indiretos para as empresas, e o aumento da renda permanente de longo prazo das mulheres, mães ou não. 

Além, disso, ajudaria a mudar as normas sociais, tornando homens solidários na criação dos seus filhos, e melhoraria o desenvolvimento das crianças, pois todos os estudos sobre educação mostram que, para o desenvolvimento infantil, nada é melhor que a atenção dos pais, especialmente no início da vida. 

As mães poderiam voltar ao mercado de trabalho mais tranquilas, sem precisar recorrer a creches e ao resto da família, pelo menos pelos três meses seguintes ao final das suas licenças. 

Gostamos de olhar a Escandinávia como modelo de sociedade. Nesse caso, podemos fazer até melhor.
 

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