Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Rodrigo Zeidan

Governo erra até ao tentar acertar

Quer fazer populismo com dinheiro público? Que faça direito

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Mesmo quando tenta acertar, o governo erra. E isso se formos generosos com a interpretação das suas últimas ações. Vamos aos fatos.

Nos últimos dias, o governo anunciou a criação do 13º salário para o Bolsa Família e propôs a revogação do aumento real do salário mínimo

Bolsa Família é um valor pequeno (no máximo, em pouquíssimos casos, R$ 378 por família). O programa não é bom somente porque dá dinheiro para quem mais precisa, mas também, e principalmente, porque reduz a incerteza em relação à evolução da renda familiar. 

Ser pobre não é só receber pouco, mas também não saber quanto vai receber nos próximos meses. A diminuição da volatilidade da renda importa porque todas as famílias, pobres e ricas, têm dificuldade de planejar o seu futuro.

Em termos técnicos, dizemos que os brasileiros fazem desconto hiperbólico da sua renda e gastos futuros. Ou seja, damos muito mais valor ao presente e ao futuro próximo do que o futuro distante. É por isso que aceitamos pagar juros absurdos, parcelamos as compras —precisamos do produto agora!— e poupamos pouco para o futuro. 

Como não vamos mudar da noite para o dia, é muito mais importante para uma pessoa pobre saber que sua renda mensal vai ser um pouco mais alta e previsível do que ter um benefício que só virá no fim do ano.

Teria sido muito melhor aumentar o benefício mensal. O objetivo do governo é obter apoio político dos mais pobres, o que é parte do jogo, mas isso poderia ter sido feito mais eficientemente. Quer fazer populismo com dinheiro público? Que faça direito.

Se o governo é ineficiente na transferência aos mais pobres, na hora de arrancar dinheiro dos que mais precisam não falta competência.

A proposta de revogação do aumento do salário mínimo é uma tentativa de impedir o crescimento da renda dos trabalhadores mais pobres com a desculpa de que isso seria necessário para equilibrar as contas públicas e diminuiria desemprego e informalização. Balela.

É verdade que um aumento muito grande do salário mínimo poderia causar maior desemprego. Mas não é esse o caso da política de aumento real do salário mínimo. Ela faz com que o mínimo suba em termos reais no percentual do crescimento passado do PIB. 

Desde o seminal trabalho de Alan Krueger —grande economista que, infelizmente, se matou há poucas semanas— e colegas, sabemos que um aumento pequeno, mas real, do salário mínimo não causa desemprego.

A política atual do mínimo tem pouco impacto sobre o mercado de trabalho, mas é importante em termos de distribuição de renda. Há algum efeito sobre as contas públicas, mas, assim como no caso do Bolsa Família, essa é a influência que queremos —o papel do governo é diminuir a absurda desigualdade de renda do Brasil. 

Não é preciso atacar o bolso dos mais pobres para fechar o rombo das contas públicas.

O Dia da Terra é celebrado na segunda, dia 22, e, para variar, estamos na contramão da história. 

Está nas mãos da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania uma bomba gigantesca para o nosso o ambiente. O PL 1.551, do senador Marcio Bittar (MDB), da base governista, extingue o instituto da Reserva Legal no Código Florestal

Da noite para o dia, os donos de terra poderiam impunemente desmatar a parte das suas terras que hoje é protegida. Caos.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.