Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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O agente laranja, a gripe e a fumaça

Guerra, poluição e doenças; o ano promete, e não temos certeza de que seja pra bem

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A preocupação é com a guerra, mas algo de concreto contra a sociedade iraniana os EUA já fizeram: sanções econômicas. A proibição de comércio e transferências financeiras, entre outras medidas, funciona muito bem; em punir os pobres. 

Sanções nunca funcionaram para desestabilizar um regime autocrático. Os EUA já as colocaram contra Coreia do Norte, Cuba, Irã, Síria, Sudão e Venezuela. Nenhum regime caiu por causa delas, mas sanções já geraram até crises humanitárias.

Ameaças e sanções podem, raramente, desestabilizar regimes eleitos democraticamente, de acordo com estudos como o de Amanda Licht. Mas não no caso de regimes autocráticos: a única forma é mesmo a guerra. O PIB iraniano é menor do que seria sem sanções. Mas deixemos claro: sanções econômicas gerais devem acabar (algumas sobre certos indivíduos, como a claque de Maduro ou oligarcas russos, não fazem mal).
 

E no caso de ocupações militares? O que os americanos fizeram com Afeganistão e Iraque é criminoso. E não no sentido militar. O crescimento anual do PIB per capita iraquiano desde 2000 é de 1%, e não por causa da guerra. A economia afegã patina desde 2010, tendo PIB menor hoje que então. 

Como gestores econômicos no exterior, os americanos são incompetentes. Não precisamos ter medo da “influência” americana na América Latina. Já somos donos do nosso nariz. O problema é quando os americanos dão de salvador da pátria e vêm com tanques e consultores “reconstruir” o que destruíram. Deixam o caos e se mandam (os europeus, no quesito sanções, não são melhores: as sanções sobre a Rússia somente deixaram os russos mais pobres, sem afetar a permanência de Putin no poder).

A fumaça australiana que chegou ao Brasil não nos ameaça diretamente, mas nos faz lembrar de como a poluição afeta a população de forma insidiosa. 

Estudos recentes mostram que neurotoxinas e poluentes do ar têm efeitos muito piores do que antes imaginado. Nos EUA, o número de indivíduos com QI abaixo de 70 é 3,4 milhões maior, e de pessoas com QI acima de 130, 

3,6 milhões menor, por causa do uso do chumbo na gasolina e outros poluentes, algo comum até pouco tempo.

A poluição atmosférica também causa muito mais mortes do que pensávamos. No Brasil, estimativas chegam a 60 mil mortes por ano por causa da poluição atmosférica. Nas cidades grandes, considerável parte da poluição vem de carros. 

No Rio de Janeiro, em algumas partes da cidade, todos os dias deste ano tiveram poluição com indicador (AQI) acima do nível aceitável de 50, em relação a dois tipos partículas suspensas (menores que 2,5 e que 10 micrômetros). Em Copacabana, o AQI era de 180 às 23h do dia 9. Em Xangai, acima de 200 o recreio na área externa das escolas é cancelado.

Fomos um dos primeiros países do mundo a retirar o chumbo da gasolina (em 1989), mas poucos sabem que, em São Paulo, há cerca de dois dias por mês, em média, em que o AQI passa de 150.

Aqui em Xangai, poluição é problema velho e conhecido (muita gente tem filtro de ar em cada cômodo da casa), mas o que assusta é a nova gripe, que causa pneumonia rapidamente, tem afetado os moradores de Wuhan e pode se espalhar pelo mundo. O governo chinês está respondendo da mesma forma que no caso da Sars, no passado: coloca qualquer pessoa com sintomas em quarentena forçada. 

Ou seja, guerra, poluição e doenças: o ano novo promete, e não temos certeza de que seja pra bem.

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