Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Parem o país

Europeus achavam que dava para ficar em cima do muro, e a tragédia se instaurou

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A cada ação hesitante, ficamos mais perto do caos italiano do que da segurança de Singapura. Estamos no meio da maior onda de incerteza sobre a saúde e economia globais, e, no Brasil, não é hora de timidez. É para parar o país.

Nós temos um modelo de ação, baseado no que fizeram Singapura, Coreia do Sul e China, para parar a epidemia do coronavírus. Esse plano requer fechamento de fronteiras, quarentena e distanciamento social, compra e uso extensivo de testes, empréstimos-ponte para trabalhadores formais e informais e pequenas empresas e monitoramento ativo de quem teve contato com pessoas infectadas.

Resumindo: é para parar o país e usar inteligência para mapear com quem cada infectado esteve. O país vai parar por bem ou por mal.

Os países europeus achavam que dava para ficar em cima do muro, e a tragédia se instaurou. Agora, como disse Macron, presidente francês, é guerra, e, como disse Merkel, chanceler alemã, é o maior desafio global desde a Segunda Guerra Mundial.

Do ponto de vista econômico, o tímido pacote econômico e o minguado corte da taxa Selic não vão servir para muita coisa. No resto do mundo, a ajuda governamental se anuncia geral e irrestrita. Aqui, o pacote de R$ 15 bilhões anunciado pelo governo na quarta-feira (18) não vai dar nem para a saída.

Um plano econômico sério para segurar a economia, não no seu ritmo de atividade, mas de solvência, requer cinco pilares: 1) crédito ao mercado formal, com aumento no valor e extensão do Bolsa Família; 2) abraçar quem está no mercado informal e fora do cadastro único; 3) empréstimos-ponte para pequenos negócios, como bares e restaurantes, 4) edição de medidas de economia de guerra para aumentar sobremaneira o número de testes, ventiladores pulmonares, leitos e outros insumos médicos; e 5) a determinação do que seriam serviços essenciais.

Por exemplo, para aprender com chineses, Uber Eats e iFood são, neste momento, atividades fundamentais. Sem que as pessoas possam se locomover, elas devem poder pedir comida em casa. Na China, os entregadores de aplicativos são parte importantíssima da infraestrutura de resposta à crise.

Aqui não deveria ser diferente.

Não é hora de “dilly-dallying”, como dizem os ingleses, de ficar perdendo tempo com indecisões e pedidos esdrúxulos de contrapanelaços. É economia de guerra. Podemos escolher: vamos usar o caminho da inteligência e coragem dos asiáticos ou da indolência dos europeus latinos.

Num país com problemas estruturais de violência, o caminho da negligência é muito mais perigoso. A violência pode explodir. Criticar a OMS e dizer que parar a economia seria fácil, mas ele não iria fazê-lo, como disse Doria, é jogar o país no caos.

São poucos os momentos na história em que a competência do governo é a diferença entre a catástrofe e a sobrevivência. Este é um deles. Não há como fazer politicagem de botequim.

Normalmente, a esquerda usa o fantasma do austericídio como se ser responsável do ponto de vista fiscal fosse um grande pecado. Mas, no momento, austeridade é genocídio.
Nossos pais e avós vão morrer se o governo não entrar de cabeça numa campanha quase bélica contra o vírus.

Fizemos o Cadastro Único, que permitiu termos um dos melhores programas de transferência de renda do mundo, o Bolsa Família.

A capacidade do Estado, quando bem utilizada, pode, sim, limitar os danos. Vamos escolher nos render sem nem lutar?

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