Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

O Ano do Boi

O capitalismo chinês hoje ainda engatinha; mas talvez não por muito tempo

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Não se deve superestimar a China a curto prazo nem a subestimar a longo prazo. Embora tenha sido um dos poucos países com aumento no PIB em 2020, ainda não é certo que a China conseguirá escapar da armadilha da renda média.

Apesar de a economia ter aumentado mais de 60 vezes desde 1978 (um crescimento médio de 9% ao ano), e o PIB per capita, mais de 65 vezes (de US$ 150, em 1978, para US$ 10.500, em 2020), a renda média individual na China é somente 15% da americana (e pouco mais de 10% acima da brasileira).

Ainda que o custo de vida seja menor no país, os chineses ainda estão muito longe da produtividade, renda e consumo dos americanos. Grande parte da importância econômica da China é puro efeito da sua escala; embora longe da renda média americana, o efeito do aparecimento de mais de 1 bilhão de novos consumidores e de mais de 6 milhões de empresas por ano se alastra até chegar ao mais pobre agricultor na Europa e ao mais rico banqueiro na África.


O superciclo das commodities contribuiu para o crescimento econômico brasileiro no início dos anos 2000, e foi a recuperação chinesa que tirou o mundo da recessão criada pela crise financeira de 2008.

Pode ser que, de novo, a China seja determinante na recuperação econômica mundial, mas a principal questão em aberto é se o país conseguirá se tornar próspero ou será mais uma sociedade a afundar na armadilha da renda média.

O sistema pode ruir pelo autoritarismo, pelas perseguições políticas e pela megalomania de autoridades públicas, que, com os cofres abarrotados, injetam dinheiro em obras faraônicas. Até há pouco tempo, os empresários investiam sem medo de represálias, pois “ficar rico é glorioso”, como disse Deng Xiaoping, dirigente do país durante o início das reformas econômicas.

Mas decisões como a interferência sobre abertura de capital do grupo Ant podem limitar a agressividade das empresas privadas. O dinamismo da economia chinesa pode ser resumido em uma palavra: competição.

No país mais capitalista do mundo, os incentivos são para famílias, empresários e funcionários públicos competirem ferozmente. Na política, há fortes disputas pelas melhores posições, como governador de Xangai, e até mesmo para subir na carreira burocrática a competição reina —na Receita Federal daqui, assim como em muitas autarquias, funcionários precisam passar em concursos a cada três anos para serem promovidos.

No mundo empresarial, a concorrência é brutal; poucas regras valem nas disputas por fornecedores e clientes. Se as autoridades deixarem o nacionalismo barato de lado, o país enriquecerá. E nada do que vimos até hoje se comparará com os efeitos do enriquecimento do maior país do mundo.

A China pode crescer 6% anuais por 30 anos e a produtividade do trabalhador chinês não chegará a 60% daquela de um americano. Caso isso aconteça, as exportações brasileiras para a China podem passar de US$ 200 bilhões; em 2020, foram US$ 68 bilhões.

A curto prazo, a China contribuirá para a recuperação mundial. Em 2021, o Ano-Novo Chinês cai na sexta, dia 12 de fevereiro (acaba o Ano do Rato e começa o Ano do Boi). Normalmente, o país para; mas, com o medo do vírus e a demanda mundial em alta, as empresas chinesas estão pagando extra para que produção não pare.

A China já é a maior economia do mundo hoje, mas ainda está muito longe do seu potencial. O capitalismo chinês hoje ainda engatinha. Mas talvez não por muito tempo.​

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