Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Por amor aos brasileiros, feche a economia, presidente

Consequências econômicas de deixarmos o vírus continuar sofrendo mutações podem ser ainda mais desastrosas

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Nunca gostei do presidente nem nunca escrevi seu nome, pois meu nível de ojeriza a tudo em que ele parece acreditar e representar não tem fim. Contudo, ou o Brasil se une em torno do objetivo de salvar sua população ou deixaremos como legado da nossa vazia democracia um cemitério cheio de corpos e ideias, além de um país falido, econômica e moralmente.

Estou disposto a fazer o que for necessário para que haja coordenação de política econômica e de saúde para sairmos dessa pandemia com o menor número de mortos possível. Até posso chamá-lo de herói se houver uma mudança radical de curso.

Precisamos de um lockdown nacional urgentemente porque precisamos ganhar tempo até vacinarmos boa parte da população. Pior: deixar muita coisa aberta pode simplesmente tornar o Brasil o celeiro de novas variantes do vírus.

Se uma nova variante que seja imune às atuais vacinas surgir, simplesmente o mundo vai fechar as portas para o Brasil, talvez por anos ou décadas. E nosso sistema de saúde não está dando conta do aumento brutal do número de casos de Covid no país.

Por amor aos brasileiros, feche a economia, presidente. Estamos perdendo 3.000 brasileiros por dia. As consequências econômicas a longo prazo de deixarmos o vírus continuar sofrendo mutações podem ser ainda mais desastrosas. Temos uma das melhores estruturas para vacinação em massa do mundo. Precisamos de tempo para que as vacinas cheguem e possamos usá-las. Muito mais do que na primeira rodada do auxílio emergencial, temos a luz no fim do túnel —alguns meses até termos vacinado 50% da população.

Não quero cair na falácia de custos afundados; no momento, não importa o que foi feito antes e nem de quem é a culpa, só importa a decisão de fechar o país agora.

Mais importante, não haverá impacto fiscal se isso for feito de forma estruturada. Sei que isso parece contraintuitivo; afinal, gastar centenas de bilhões com auxílio emergencial deveria deixar um rombo nas contas públicas. Mas o que importa em termos da dívida pública é o efeito sobre as taxas de juros reais de longo prazo. Ou seja, gastar uma montanha de dinheiro hoje afetaria o custo do governo se financiar no futuro? Vimos ao redor do mundo que a resposta em relação à pandemia é não, se houver transparência no uso dos recursos e um claro benefício de fazê-lo.

A Grécia, país em situação fiscal muito pior que o Brasil, acabou de vender, pela primeira vez desde 2008, títulos públicos com vencimento em 30 anos. O país lançou € 2,5 bilhões, mas a demanda era de € 26 bilhões. Ou seja, investidores institucionais querem muito colocar dinheiro na dívida pública grega de longo prazo.

O custo de rolar a dívida grega é o menor desde 2008, mesmo com a recessão causada pela Covid (o PIB grego caiu 9,5%) e um déficit público gigantesco por causa disso (7% do PIB). A dívida pública grega terminou 2020 em 176% do PIB, o dobro da nossa.

Sim, um auxílio malfeito e sem lockdown vai tornar mais difícil a gestão da dívida pública brasileira. Mas é por isso que precisamos que a mensagem para a sociedade seja clara, coordenada e transparente. Presidente Bolsonaro, a decisão por um lockdown é a mais importante decisão de política da nossa história recente.

Por favor, presidente, feche o país e pague às pessoas para ficarem em casa. Não parece haver outro caminho.

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