Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan
Descrição de chapéu Fies enem universidade

Filho do porteiro é o acerto do Fies

Guedes prova de novo que não entende de Brasil, de economia ou de políticas públicas

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O Fies tem vários erros de desenho, mas o grande acerto do programa é exatamente permitir ao filho do porteiro entrar na faculdade, com zero ou não na redação.

Hoje, o Fies é uma sombra do que já foi: em 2014, foram 732 mil novos contratos, e em 2020 esse número caiu para 100 mil. Empréstimos subsidiados para aumentar a demanda por ensino superior são o padrão em quase todos os países; até na Dinamarca, onde o ensino superior é gratuito, os empréstimos servem para que os alunos possam se concentrar nos estudos.

O desenho original do Fies teve erros, como quase garantir que as instituições privadas recebessem o preço cheio das mensalidades, falta de focalização nos estudantes que realmente precisariam do empréstimo e muita limitação a que empréstimos fossem somente para pagar mensalidades, negando a possibilidade de os mais pobres se concentrarem somente nos estudo.

Pior, permitiu-se que as instituições privadas repassassem o risco de inadimplência, com todo o gosto, para o Tesouro, algo que poderia ser resolvido por regras aperfeiçoadas.

Melhor mesmo é o ProUni, que garante bolsa aos alunos mais pobres para ingresso no ensino superior e, em 2020, entregou 166 mil bolsas (mas ainda um quarto a menos que em 2014, quanto o programa contemplou 223 mil estudantes).

O ProUni e o Fies, bem desenhados, são fundamentais em um dos países mais desiguais do mundo e só funcionam quando o filho do porteiro entra na universidade com ajuda do resto da sociedade. Guedes, mais uma vez, prova que não entende nada de Brasil, de economia ou de políticas públicas.

Ainda sobre educação: “Professor, há como termos mais exercícios para nos prepararmos para a prova?”. “Claro, mas vocês não estão achando a matemática das perguntas complicada?” “Matemática? Matemática é fácil, é só praticar. Difícil mesmo é poesia e literatura, em que não há respostas 100% corretas e não dá para resolver exercícios só com esforço.”

As normas sociais na China são claras: matemática não é difícil. Infelizmente, no Brasil e em muitos países ocidentais, criou-se um mito de que há pessoas de exatas e humanas. O resultado disso está no mercado de trabalho: saber matemática gera um prêmio e profissionais que fazem uso intensivo de cálculo e estatística ganham muito mais que a média no setor privado.

Nos EUA, os maiores salários, em termos de renda durante toda a vida, estão nas áreas de engenharia, finanças e ciência da computação. Mais da metade dos formados em engenharia química e aeronáutica ganha US$ 3,6 milhões ao longo da carreira, sendo que os 25% mais bem pagos amealham mais de US$ 4 milhões, de acordo com o professor Douglas Webber, que mantém um banco de dados sobre o assunto.

Não é muito diferente para profissionais de finanças e economia, com a mediana da renda vitalícia em cerca de US$ 3,2 milhões.

Os salários mais baixos? Artes, música e drama, áreas nas quais as pessoas acabam ganhando menos que metade, ao longo da vida, do que em áreas quantitativas.

Não é diferente no Brasil, onde há elevado prêmio para quem consegue se formar no ensino superior e é maior ainda para quem se forma em matemática, física, finanças ou economia.

Educação não é só formar alguém para o mercado de trabalho. Precisamos de mais e bons profissionais de humanas, mas temos que acabar com a norma social de que é aceitável não saber matemática. Afinal, saber fazer contas dá dinheiro.

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