Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Voto impresso é cortina de fumaça sem conteúdo

Briga do governo pela volta parcial do voto impresso é uma farsa

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Um governo autoritário só respeita a democracia quando é do seu interesse. A briga pela volta parcial do voto impresso é uma farsa, uma cortina de fumaça sem conteúdo.

Para o governo, apoiá-la é o equivalente a um investidor comprar uma opção de compra da Amazon com dinheiro público. Uma opção de compra dá ao proprietário o direito de comprar ações da empresa a um determinado preço, no dia do vencimento. No pior dos cenários, a opção vira pó; ou seja, não é exercida.

No caso do voto impresso, exercer a opção significa usar a controvérsia sobre urnas eletrônicas para uma tentativa de golpe, apoiada ou não por militares. Ou seja, o governo planta a semente de uma insurreição e pode escolher colher seus frutos, ou não.

O governo só finge querer a volta dos votos em papel. Não há real interesse em passar nenhuma medida concreta sobre o assunto. Enquanto a controvérsia existir no plano das ideias, ela pode ser usada como ferramenta de golpe. Se realmente for colocada em prática, tirará do presidente uma possível estratégia para permanecer no poder.

O governo vai sabotar, se possível, a PEC que prevê a volta do voto impresso, de preferência colocando a culpa na oposição. O cenário ideal para o governo seria a PEC não passar no Congresso Nacional, pois poderá usar isso como forma de invalidar as próximas eleições.

A PEC é uma armadilha, e não há caminho claro para não cair nela. Aprová-la é um retrocesso que não garante que o governo vá respeitar os resultados das eleições.

O governo vai jogar sujo para continuar no poder. O resultado da PEC é irrelevante para isso.

A primeira nação independente da América Latina é também a mais pobre da região, em parte porque o colonialismo europeu matou o primeiro grande grito de liberdade nas Américas.

Durante mais de 120 anos, o país pagou reparações de guerra para a França, um legado que impediu um processo autônomo de desenvolvimento.

A primeira revolta de escravos que culminou com um Haiti independente aconteceu em 1791. Em 1802, com Napoleão no poder, a França retomou o controle do país, mas em 1804 os haitianos o retomaram.

Em 1825, no entanto, os franceses retomaram as hostilidades, dessa vez exigindo reparações de guerra e dependência econômica. Os franceses cobraram 150 milhões de francos e, pior, um desconto forçado de 50% dos preços do açúcar nas exportações para a França.

O primeiro pagamento em ouro virou atração e desfilou em Paris antes de ir para os cofres públicos. Como bem disse Sperling (2017), a demanda da França por reparações foi o equivalente a um sequestrador processando seu refém pelo custo de consertar uma janela quebrada durante a fuga.

O Haiti não teve condições de pagar tudo na janela inicial de 30 anos, e o principal da dívida foi pago apenas em 1893. O Haiti levou até 1947 para pagar todos os juros.

E não foi só a França. Os americanos chegaram a embargar o comércio com o país e só reconheceram formalmente o Haiti em 1864. Afinal, um país liberto governado por escravos era anátema ao modelo escravocrata americano da época.

A história do Haiti também é a nossa. Com uma diferença. Nosso atraso há muito tempo não é causado por fatores externos e é resultado somente de nossas péssimas escolhas.

Nós falhamos na Missão Haiti, que terminou em 2017. Deveríamos abrir as portas a qualquer haitiano que queira morar no Brasil. O Haiti é aqui.

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