Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan
Descrição de chapéu mercado de trabalho

Liderança aos berros é coisa do passado, mas só cabe a nós mudar

É preciso tornar ambientes de trabalho e de estudo mais construtivos

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"Para dar ciência à comunidade, anunciamos que George Perez tem câncer de pâncreas em estágio avançado e decidiu que vai deixar a natureza tomar seu curso".

Para quem não o conhece, Perez é um dos mais importantes artistas de quadrinhos de super-heróis da história. E é um ídolo para mim e muitos outros. Não me inspiro nele somente porque é bom no que faz e porque adoro quadrinhos. Digressão: no fundo, sou professor da New York University por causa de gibis; foi para traduzir as histórias da Liga da Justiça, cujas revistas eu comprara no idioma original a muito custo, que aprendi inglês –não fiz cursinho ou intercâmbio.

George Perez é muito mais que um artista. É uma boa pessoa. E se você olhar ao redor, poucas coisas são mais importantes que estar cercado de pessoas decentes, seja na vida pessoal ou profissional.

Infelizmente, vivemos numa sociedade competitiva onde o sucesso não tem muita relação com a qualidade do caráter. É comum vermos líderes que gerenciam suas empresas através do medo e cuja forma de se comunicar com subordinados é aos berros (dá até para chegar à presidência assim).

Chefe agressivo grita no trabalho com funcionária - Antonio Guillem/Adobe Stock

Ambientes de trabalho estão cheios de colegas que passam o dia inteiro reclamando ou criticando os outros. Abusos verbais ainda fazem parte do cotidiano. E isso vale mesmo em ambientes não empresariais. É comum vermos professores que só criticam alunos e que só querem sugar os orientados, usando-os como funcionários não remunerados nos seus projetos de pesquisa e descartando-os assim que não são mais úteis.

"Não se preocupe, Perez não vai parar de assinar autógrafos e desenhar para os fãs até o último ser atendido", foi o que me disse seu agente, numa convenção de quadrinhos, depois que vi a fila enorme de gente esperando pelo artista. "Mas vai demorar, pois George dá atenção a cada fã; não vai simplesmente assinar seu nome e chamar o próximo", completou ele.

Além de tratar com respeito cada um dos seus fãs, em qualquer leilão de arte para ajudar alguma organização, é líquido e certo que ele doe um dos seus desenhos. Ele apoia vários artistas que estão começando, sempre com uma palavra ou uma dica preciosa sobre a carreira. Seus pares só têm coisas boas a falar dele. Assim como os fãs.

Na NYU, onde no departamento de finanças e negócios há cinco prêmios Nobel em economia, a primeira coisa que um deles me disse foi: "Se você conhecer um colega arrogante, que só sabe reclamar e que torna o ambiente de trabalho ruim, fuja e nem pense em escrever com ele ou ela. É furada."

Entendi na hora. A razão? Já fui um desses péssimos colegas. Aprendi a lição da forma mais dolorosa possível. Trabalhava numa instituição de ensino no Rio que precisava de um mestrado por causa da regulação. Eu era o professor que mais publicava, de longe, e o único que o fazia em periódicos internacionais. Mas fui demitido.

Todavia, não posso criticar a instituição. Eu era um chato, apontando problemas em tudo, desde os computadores desatualizados até a falta de softwares básicos para fazer pesquisa. Qualquer falha da instituição era motivo de criticá-la, pois, afinal, eu queria que a universidade magicamente virasse uma organização de ponta.

E na sua empresa? Vale a pena perder tempo com colegas que nunca querem construir nada? A vida é muito curta para se rodear de gente chata e destrutiva. Liderança aos berros é coisa do passado. Mas só cabe a nós mudar.

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