Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Por que a China não vai invadir Taiwan

Crise mostra que separação comercial e política entre as duas potências vai continuar

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A China não vai invadir Taiwan, a visita de Nancy Pelosi não é imprudente e as relações comerciais entre o gigante asiático e os EUA não serão rompidas. Não há grandes riscos imediatos à economia mundial pelo aumento da tensão entre EUA e China, mas, ainda assim, é mais um sinal de que o processo de separação comercial e política (decoupling) entre as maiores economias globais vai continuar.

Os erros mais comuns de quem analisa movimentos chineses são (1) achar que todos em Pequim concordam sobre o que deve ser feito e (2) enxergar as ações chinesas sob a lente de China versus o resto do mundo, como se movimentos estrangeiros fossem especialmente relevantes para o processo decisório político.

O ocidente adora se achar mais importante do que é. A China é um continente, o Partido Comunista Chinês é extremamente complexo e nenhum presidente consegue se manter no poder sem robustas redes de alianças. "Toda a política é local", já diz o ditado.

A presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, visita o parlamento em Taipei, em Taiwan - Ann Wang - 3.ago.2022/Reuters

É claro que a China tanto reage ao que acontece no mundo como toma ações para garantir seus "interesses", mas, no fundo, nada é mais importante que garantir ordem social, nem mesmo crescimento econômico. Os treinamentos de guerra são muito mais sinais para o público interno de que o governo é forte e, portanto, é importante que o presidente Xi Jinping seja reconduzido a um terceiro mandato, que uma ameaça aos EUA.

A China tem uma longa história de guerras civis e conflitos internos. E ordem é muito mais que vigilância estatal ou autoritarismo. São vários os contratos sociais implícitos entre sociedade, elites e governo, mas em todos há algo em comum: estabilidade. É comum as pessoas acharem que os chineses vivem com medo do governo, mas é mais o contrário; o maior risco ao Partido Comunista é a insatisfação popular.

Tomemos o exemplo da política de Covid zero chinesa. Ela sempre foi vendida para o público como grande sucesso da liderança do Partido Comunista contra a decadência ocidental. Mesmo com custos aumentando enormemente com a dificuldade de se lidar com a variante ômicron, ainda é apoiada pela maioria da população, mesmo sendo vista com desconfiança fora da China.

Lockdowns, testes diários, problemas de cadeias de suprimento e empresas estrangeiras diminuindo investimento são alguns dos imensos custos econômicos para a sociedade chinesa, mas as autoridades ainda assim preferem manter a ordem social que "conviver com o vírus"; ninguém sabe como a população reagiria ao ver milhões dos mais vulneráveis morrendo. A política atual é dura, mas privilegia a estabilidade sobre todo o resto.

Em relação a Taiwan, é projeto do Estado a ideia de China única, mas a sua implementação está longe de ser determinística ou disparada por movimentos externos. A visita de Pelosi vai sim ser usada por grupos internos chineses que defendem política externa mais agressiva. Mas esses grupos estão sempre buscando justificativas para suas crenças. Vimos no caso da guerra da Rússia que a preocupação imediata de Pequim era que as Olimpíadas de Inverno corressem bem; interesses locais importam mais que o que querem os outros países.

Não vai haver guerra, mas isso não quer dizer que é fácil entender os movimentos que vêm do Oriente. Narrativas simplistas estão simplesmente erradas. Desde sempre os governos chineses surpreendem o mundo, para o bem e para o mal. Por que agora seria diferente?

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