Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan
Descrição de chapéu Auxílio Brasil

Comprando votos

Presidente transformou a política pública de Estado mais bem-sucedida da história brasileira em uma política de governo

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O presidente usa de expedientes eleitoreiros de baixo nível para tentar se reeleger, destruindo a qualidade de vida dos mais vulneráveis no caminho. Os planos do governo em relação ao Auxílio Brasil são péssimos, e a destruição do Bolsa Família pela incompetente equipe econômica gerou algo que nunca mais deveríamos ver no país: a volta da fome.

É bom lembrar que o governo foi contra o Auxílio Emergencial, e teve o valor enfiado goela abaixo pelo Congresso. E o governo acabou com o auxílio semanas antes das vacinas estarem disponíveis. Não só acabou com o auxílio, mas anunciou que não haveria segunda onda, praticamente obrigando todo mundo a ir para a rua. O governo fez tudo errado, o tempo inteiro, e por escolha.

Pior, trouxe de volta algo que não existia há anos: a fila para receber benefícios sociais. Hoje, centenas de milhares de brasileiros entram na fila para o Auxílio Brasil, todo mês. O governo não parece se preocupar. Tiraram das famílias mais vulneráveis uma das principais razões pelo sucesso do Bolsa Família: a previsibilidade.

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O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia de lançamento da ID Estudantil, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) - Pedro Ladeira/Folhapress

Ser pobre não é só receber pouco, mas também conviver com alta volatilidade de rendimentos: um dia se consegue fazer bico, no outro não. Assim, políticas sociais devem sempre, se possível, gerar previsibilidade, o que é o oposto de como age o governo, que não sabe valores, calendário, ou condições para a principal política de transferência de renda da sociedade.

Pior, os economistas do governo foram avisados. Na época da criação do "décimo-terceiro" pagamento do Bolsa Família, critiquei-os publicamente pelo fato de que estavam criando algo que era claramente inferior a simplesmente aumentar o valor do Bolsa Família em 1/12.

Receber um valor cheio no final do ano ou ter um aumento equivalente mensal não são equivalentes em termos de políticas públicas. Um dos maiores benefícios do Bolsa Família para as famílias era a previsibilidade. Os valores, mesmo que não muito altos, permitiam que indivíduos pudessem se planejar, seja para investir em educação ou até mesmo comprar passagens para uma entrevista de emprego.

Os critérios de elegibilidade do programa eram claros. Um décimo-terceiro, para uma família pobre, é sempre algo bem-vindo, mas receber 1/12 do valor de forma recorrente (ainda mais se começar em janeiro) é muito preferível a botar a mão no dinheiro de uma vez (meses depois).

E agora temos que o governo manda o orçamento para o ano que vem sem verbas para o Auxílio Brasil. Milhões estão na fila do programa, aptos a receber o auxílio, mas sem conseguir. Ou seja, o presidente transformou a política pública de Estado mais bem-sucedida da história brasileira em uma política de governo com a qual ele brinca a seu bel prazer. Promete valores que ele não vai cumprir para tentar comprar votos.

Ele joga com a vida das pessoas, pois não tem qualquer empatia com quem não sabe com quanto pode contar no final do mês. Seus economistas sempre foram contra o Bolsa Família e estão conseguindo o que sempre quiseram: limitar políticas de transferências de renda. Desde que para os mais pobres, é claro.

Transferência da sociedade para os mais ricos continua valendo (se bobear, vão criar um subsídio para quem comprar imóveis à vista). Não, esse não é um governo normal. E não pode ser tratado como tal. Que ele seja tirado nas urnas o mais rapidamente possível. Essa é a única esperança que nos resta.

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