Rogério Gentile

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha, editor de Cotidiano e da coluna Painel e repórter especial.

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Youtuber bolsonarista é condenado após associar vacina à homossexualidade

Marcelo Frazão ainda pode recorrer da decisão

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O youtuber bolsonarista Marcelo Frazão, de 54 anos, foi condenado pela Justiça de São Paulo por crime de homofobia.

Em outubro de 2020, Frazão, que foi candidato a prefeito de São Simão, no interior de São Paulo, pelo partido Patriota, gravou um áudio afirmando que a vacina Coronavac "poderia alterar o código genético" e causar "síndromes graves" como "câncer" e "homossexualismo".

O áudio foi distribuído pelo WhatsApp e replicado no Facebook. Em um dos trechos da gravação, Frazão diz que a vacina é uma "pauta comunista que tem como objetivo reduzir a população mundial" e que "as pessoas que a tomarem vão passar a ter problemas gravíssimos de saúde".

Imagem em close mostra pessoa segurando uma seringa espetada em uma ampola de vacina
Vacinação contra a Covid-19 na UBS Santa Cecília, no centro de São Paulo - Danilo Verpa - 16.nov.21/Folhapress

Segundo o bolsonarista, que é engenheiro agrônomo, "os filhos e os netos vão ter problemas graves porque ela [a vacina] vai alterar o código genético". "Quando seu filho for ter o filho dele, ele vai nascer com problema. O menino pode deixar de ser menino, vai virar menina. A menina deixa de ser menina e vira menino."

Na denúncia apresentada à Justiça, o Ministério Público declarou que Frazão "agiu de forma claramente preconceituosa". "O comportamento sexual, a orientação sexual e a identidade de gênero não são doenças e não podem ser provocadas por medicamentos ou cargas virais", disse o promotor Willian Daniel Inácio na denúncia.

"As mensagens de áudio e texto divulgadas pelo denunciado são homofóbicas e transfóbicas, revelando aversão odiosa à orientação sexual e à identidade de gênero de número indeterminado de pessoas, ao compará-las a doenças e ao sugerir sua ligação com questões genéticas."

Frazão se defendeu no processo declarando que não é homofóbico e que sua fala foi retirada completamente do contexto, pois corresponde a parte de uma aula de genética que disse ter proferido. Negou ter preconceito, disse que não considera a homossexualidade uma patologia e afirmou que só existem dois sexos, o feminino e o masculino.

Durante interrogatório, afirmou ainda que não existe Covid-19 nem tampouco vacina para a doença, pois "ambos são assuntos políticos". Declarou ainda que a vacina é um crime contra a humanidade.

O juiz Antônio José Para Júnior condenou Frazão a dois anos e quatro meses de reclusão, em regime aberto, mas a pena foi substituída por prestação de serviços à comunidade (uma hora de tarefa comunitária por dia de condenação).

Terá ainda de pagar uma indenização por dano moral coletivo de 50 salários mínimos (R$ 60,6 mil).

De acordo com o magistrado, Frazão, ao equiparar a orientação sexual a uma síndrome perigosa, o acusado certamente inferiorizou os membros da comunidade LGBTI+.

"Ele fazia uso de suas redes sociais para propagar notícias falsas, desestimulando as pessoas a tomarem a vacina", disse o juiz. "Ao contrário da fala propagada, os estudos de medicina baseada em evidências indicam que [a vacina] se trata de substância segura ao uso humano, tanto que o uso foi autorizado pela Anvisa, maior autoridade do país na matéria."

Frazão ainda pode recorrer da decisão.

Seu canal no Youtube, que tinha 170 mil inscritos, foi banido pela plataforma.

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