Rogério Gentile

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha, editor de Cotidiano e da coluna Painel e repórter especial.

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Novas fontes para financiar a ciência

Redução dos fundos de investimento em pesquisa quebrou expectativas dos operadores da área e gerou incerteza sobre o futuro

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Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, colunistas cedem seus espaços para refletir sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. Quem escreve é Celso Pansera, diretor-presidente do ICTIM/Maricá, foi ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Ciência, tecnologia e inovação (CT&I) entraram de forma definitiva na agenda dos governos após a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, há um sistema robusto e uma legislação com capacidade de resolver os desafios, como a Lei de Inovação (2004) e o Código Nacional de CT&I (2016). Necessitamos de uma política de Estado com capacidade de reduzir as desigualdades sociais, tornando o país mais justo e solidário, potencializando nossas riquezas naturais de forma sustentável.

Laboratórios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, onde serão criados os suínos que fornecerão órgãos para transplante em humanos
Laboratórios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, onde serão criados os suínos que fornecerão órgãos para transplante em humanos - Karime Xavier/Folhapress

Entretanto, a questão do financiamento se configura um grande gargalo. Nos últimos anos, a redução dos fundos quebrou expectativas dos operadores da área, ocasionando incertezas sobre o futuro. Vejamos algumas iniciativas com potencial para constituir recursos para a ciência de forma perene e em volumes inéditos.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) tem sido a principal fonte financeira do setor. A Lei 177/21 obriga o governo a disponibilizar o montante total de seus recursos, algo próximo de 10 bilhões de reais em 2022. No entanto, é necessário estabelecer como regra que o máximo destinado às operações de empréstimos (retornáveis) mantenha-se em 25% desse montante, e os demais 75% sejam consagrados a projetos de fomento, em que se concentra a maior demanda. Importante observar que os valores disponibilizados não podem ser utilizados para substituir obrigações correntes do orçamento do Ministério de Cultura, Tecnologia e Informação.

Já o Fundo Social do Pré-Sal (FSPS) prevê receber aproximadamente 600 bilhões de reais nos próximos 10 anos. Pela regulamentação atual, 37,5% desse valor será empregado na educação e 12,5% na saúde — 50% não possui destinação específica. Tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal projeto de lei destinando 25% dos recursos do FSPS a projetos voltados à CT&I. Sua aprovação poderá acrescentar ao setor um volume próximo a 15 bilhões de reais por ano.

A Lei 13.800/2019 instituiu os fundos patrimoniais aos quais pessoas ou empresas podem aplicar recursos para bancar projetos de diversas áreas, como CT&I, educacionais, assistência social ou esportivos. Para ter uma efetividade real, é necessário alterar a lei, incluindo a possibilidade de incentivos fiscais aos doadores, como ocorre nos Estados Unidos e na Inglaterra.

Outra fonte com potencial para financiamento está nas necessidades do poder público (União, estados e municípios) em adquirir produtos e serviços. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2012 as compras públicas englobaram mais de 15% do PIB nacional. Um programa eficiente e bem estruturado de utilização das compras públicas voltadas para a inovação, que utilize 5% destes recursos já gastos pelos entes públicos, significaria destinar 0,6% do PIB para a área. Esta resolução pode configurar uma mudança de paradigma na produção científica nacional, aproximando a academia da iniciativa privada, com grande impacto na economia.

Essas ações dotarão o Sistema Nacional de CT&I da capacidade de financiar e ter retorno, estruturando um ecossistema nacional, estimulando e criando condições de perenidade e ramificação dos recursos para o setor, com foco na estabilização e no desenvolvimento de ações de caráter duradouro em CT&I.

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