Rômulo Saraiva

Advogado especialista em Previdência Social, é professor, autor do livro Fraude nos Fundos de Pensão e mestre em Direito Previdenciário pela PUC-SP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Rômulo Saraiva
Descrição de chapéu Folhajus inss

Comércio ilegal de dados do INSS expõe trabalhador e aposentado

Cadastro de contribuições reúne mais de 29,3 bilhões de registros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Desde o primeiro emprego até a hora de se aposentar, os principais fatos da linha do tempo do trabalhador convergem para um dos maiores big data do país, o Cnis (Cadastro Nacional de Informações Sociais). São mais de 29,3 bilhões de registros cadastrais inseridos mensalmente, a exemplo do endereço, telefone, salário, doença, desemprego, prisão, empréstimos e configuração familiar.

0
SÃO PAULO, SP, 17.09.2021 - App Meu INSS. (Foto: Gabriel Cabral/Folhapress) - Folhapress


O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) é o principal destinatário desse acervo. Ele precisa saber das minúcias da vida de cada segurado, para se posicionar sobre a concessão dos benefícios. No entanto, não está tendo a responsabilidade de manter entre quatro paredes os dados que lhe são confiados.

Os dados são atualizados no sistema periodicamente e são vazados na mesma intensidade. Dia após dia se renovam as queixas de novos aposentados sendo assediados pelo marketing ativo de bancos, que oferecem empréstimo ou por advogados que compram a lista de benefícios negados para insinuar seus serviços, em ambos os casos sem qualquer consentimento dos titulares.

Alguém poderia pensar que um simples "não" seria o suficiente para estancar as investidas, ainda que isso custe elevada dose de paciência para conter a insistência mercadológica de quem comprou os dados.

Afinal, ninguém é obrigado a contratar serviço não desejado. O problema é que, uma vez existindo o comércio ilegal, não se tem mais controle de onde isso vai parar.

Dados pessoais e sensíveis podem cair nas mãos de estelionatários, para o cometimento de infindáveis, criativos e cíclicos golpes. Esse banquete de informações é disponibilizado aos cerca de 23 mil servidores públicos do INSS que precisam trabalhar com eles. E bastaria o deslize de um para tornar inócua toda a segurança de dados e de investimentos em infraestrutura tecnológica previdenciária.

O compartilhamento de informações pessoais sem a anuência expressa do interessado é prática ilegal, coibida sobretudo na LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

Desde 2016, a situação já entrou no radar do Ministério Público Federal, que acionou o órgão previdenciário na Justiça para ter maior responsabilidade no controle do seu banco de dados.
O instituto coleciona condenações judiciais em processos coletivos e individuais. Foram inúteis. Todo mês renova-se a lista de reclamação de pessoas que são importunadas em razão dos dados roubados.

Por meio de seus prepostos, o INSS viola continuamente esse direito fundamental à privacidade. Tem gente ganhando muito dinheiro com isso. É preciso encontrar os que estão enriquecendo com tal prática, puni-los rigorosamente e definir qual solução tecnológica-legal pode ser adotada para colocar um ponto final no comércio ilegal dos dados previdenciários.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.