Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Ronaldo Lemos

John Perry Barlow e o Brasil

Morto no dia 7, americano foi um dos patronos da web livre e aberta

O norte-americano John Perry Barlow morreu no dia 7 de fevereiro
O norte-americano John Perry Barlow morreu no dia 7 de fevereiro - André Sarmento/Folhapress

Morreu No dia 7 John Perry Barlow, um dos patronos da internet livre e aberta. Barlow escreveu em 1996 um dos documentos mais contundentes em defesa da liberdade na rede, a “Declaração de Independência do Ciberespaço”, apresentada no Fórum Econômico Mundial.

Barlow atuava em diversos campos com sucesso. Fundou a EFF (Electronic Frontier Foundation), entidade que advoga globalmente até hoje por direitos na rede. Foi letrista da cultuada banda The Grateful Dead e coautor de “Cassidy”, uma das suas principais canções.

No seu cartão de visitas, no entanto, constava apenas uma profissão: pecuarista (“cattle rancher”). Ele nasceu e cresceu em uma fazenda em Wyoming, o Bar Cross Ranch. Adulto, transformou o lugar em epicentro da contracultura, contratando todo tipo de figura para trabalhar como vaqueiro no lugar. Entre os contratados esteve John Kennedy Jr., que permaneceu no rancho por seis meses em 1978 sob a recomendação de Jackie O, que queria colocar o filho na linha.

Barlow teve forte relação com o Brasil. Amigo de Gilberto Gil, veio ao país quando o artista foi nomeado ministro, em 2003. Proferiu palestras marcantes com o recém-empossado ministro em São Paulo e depois no Rio. Foi quando o conheci, como organizador do evento que trouxe Gil e Barlow ao Rio, o I-Law (Internet Law), no antigo hotel Meridien, em Copacabana. 

O seminário reuniu a primeira geração de advogados e gestores públicos interessados no impacto da tecnologia. Ali foi plantada uma das sementes de um pensamento brasileiro sobre o tema.

Entre os feitos de Barlow, está a popularização do Orkut, a primeira rede social popular no país. Para entrar no Orkut, era preciso ser convidado por alguém. Barlow obteve a primeira leva de convites de um conhecido no Google. Decidiu fazer um experimento. Enviou todos para amigos brasileiros (ele acreditava que o Brasil já era uma sociedade “em rede” e que iria se dar bem com a nova tecnologia). 

Nessa primeira leva estava o antropólogo Hermano Vianna, a jornalista Cora Rónai, o escritor Julian Dibbell (que morou no país) e este colunista. Vimos de perto o Orkut se transformar de lugar desabitado na plataforma que ensinou milhões de brasileiros o bê-á-bá da vida em rede.

Barlow era uma rede social em si mesmo. Tinha em todo o mundo  um entourage, sempre diferente, que o acompanhava. Também deixava os amigos preocupados. Lutou por muitos anos com vários problemas de saúde. Em 2006, ao lado de amigos, ajudei a tirá-lo da cadeia no Rio de Janeiro, quando foi preso por desacato ao enfrentar policiais que tentavam dar uma dura em um grupo de garotos na praia de Copacabana.

Barlow foi um desbravador de fronteiras, físicas e digitais. Defensor ferrenho de um tipo de utopia possível, que faz falta nos dias de hoje. Nas suas palavras: “Você é tão forte quanto a flor que cresce afastando pedras”. In memoriam.

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