Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Ronaldo Lemos

Cinco anos do Marco Civil da Internet

O país mergulhou em crise, mas o modelo brasileiro de internet permanece respeitado

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O Marco Civil da Internet acaba de completar cinco anos. É a primeira lei brasileira a tratar de forma abrangente a rede, protegendo direitos e criando deveres.

Para ter uma ideia da sua importância, ele protegeu no país a chamada “neutralidade da rede”. Esse princípio impede que haja discriminações na raiz da conexão. Entre seus impactos, está a possibilidade de desenvolvimento sem discriminação de serviços intensivos em tráfego de vídeo, como a Netflix.

Uma das características do Marco Civil foi sua construção colaborativa. Ele surgiu a partir da sociedade (e não do Estado) e daí foi ganhando força. Diferentemente das leis tradicionais, sua redação aconteceu online, a olhos vistos e aberta para quem quisesse participar.

Houve contribuições da comunidade científica, dos setores público e privado, de bibliotecários e até mesmo da associação das LAN houses (principal forma de acesso à rede à época). Foi, assim, uma das primeiras leis construídas de forma colaborativa usando a própria rede. 

Essa história é contada em forma de thriller pela jornalista Ana Carolina Papp no livro “Em Nome da Internet: Os bastidores da Construção Coletiva do Marco Civil”, disponível online.

O Marco Civil logo ganhou reconhecimento internacional. Por exemplo, o criador da World Wide Web (WWW), Sir Tim Berners-Lees, disse que o Marco Civil “é um bom exemplo de como governos podem desempenhar um papel positivo no avanço de direitos na web e na manutenção da rede aberta”.

Um dos pontos mais importantes do Marco Civil é que ele continuou uma boa prática que o país adota desde 1988: tratar a internet a partir do chamado multissetorialismo. Em outras palavras, reconhecer que a internet não é um fenômeno nem público nem privado, mas sim multissetorial.

Faz sentido. A internet surgiu no Brasil em razão de um esforço coletivo que envolveu tanto sociedade quanto Estado. 

Reunião no Congresso sobre o Marco Civil da internet com os então ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Savatti, e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, - Alan Marques 12.nov.2013/Folhapress

Em 1989, o país já tinha o primeiro serviço de provimento de rede, oferecido pelo Ibase, a organização fundada por Carlos Afonso e Betinho quando retornou do exílio. Nesse ano foi criada também a RNP (Rede Nacional de Pesquisa) com a missão de consolidar a ligação do país à internet. Esses esforços paralelos convergiram no início dos anos 1990 para garantir que a Rio-92 tivesse acesso à rede (o que surpreendeu os participantes do evento!).

A cooperação entre Estado e sociedade é a essência da governança da rede no Brasil. Foi esse princípio que impediu que o acesso à internet fosse monopolizado pela Telebras, permitindo que fosse prestado livremente por empreendedores privados. Foi também esse princípio que levou à criação do Comitê Gestor da Internet.

O multissetorialismo projetou o país até 2014 como um dos líderes nas negociações mundiais sobre governança da rede. Desde então o país mergulhou em crise, e essa influência se diluiu. Mas na área de internet o modelo brasileiro permanece respeitado.

O aniversário do Marco Civil será um dos temas do evento que acontece nesta terça (7) no Congresso Nacional (Conet 2019), com abertura do presidente da Câmara. 

O mundo mudou desde sua aprovação, mas os princípios que levaram ao Marco Civil permanecem importantes como sempre.

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